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Introdução
Sobre a Transitoriedade é um breve ensaio de Sigmund Freud escrito em novembro de 1915, a convite da Berliner Goetherbund (Sociedade Goethe de Berlim) para um volume intitulado Das Land Goethes (O País de Goethe).
Com certo teor pessoal, esse apresenta parte da teoria contida em Luto e Melancolia, que escrevera alguns meses antes, embora publicado posteriormente.
A transitoriedade
A reflexão de Freud teve início ao caminhar no campo acompanhado de amigo e um poeta. O último, ciente da beleza ao seu redor, não se alegrava e sim perturbava-se por sua finitude: “tudo aquilo que, em outra circunstância, ele teria amado e admirado, pareceu-lhe despojado de seu valor por estar fadado à transitoriedade”[1].
Freud pensa que podemos reagir à transitoriedade com desalento ou rebelião, embora seja claro que o desejo de imortalidade não modifique a impiedosa realidade. Em contraposição ao pessimismo do colega, argumenta que “a limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição”[2], além de expor que o belo “é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta”[3].
Dado que suas considerações não surtiram efeito sob o colega, Freud infere que outro processo emocional o consumia – um antecipado luto.
Então, explica-o: o sujeito possui uma capacidade para o amor denominada libido. Após as etapas iniciais de seu desenvolvimento, ela deixa de ser dirigida ao próprio ego e vai em direção a outros objetos, que assim são levados a ele. Em caso de perdas, que requerem renúncia e desapego, eis o luto.
Freud dá continuidade às suas reflexões com base em acontecimentos do ano anterior, quando instaurou-se a Guerra, que “roubou-nos do muito que amáramos e mostrou-nos quão efêmeras eram inúmeras coisas que consideráramos imutáveis”[4].
Segundo ele, nesse cenário a libido foi privada de muitos objetos e apegou-se aos que restaram. Se os sujeitos destituíram de valor os bens de outrora, foi porque, tal como o poeta, enlutaram-se – e trabalhos de luto, após renúncia do que se foi, também findam.
Por fim, deixa uma mensagem serena:
Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes.[5]
Referências
FREUD, Sigmund. Sobre a Transitoriedade (1916 [1915]). IN: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996
[1] FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade… p. 183
[2] FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade… p. 184
[3] FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade… p. 184
[4] FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade… p.185
[5] FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade… p. 185
Psicóloga (CRP 06/178290), graduada pela PUC-SP. Mestranda em Psicologia Social na mesma instituição. Pós-graduanda no Instituto Dasein.
Instagram: @akkari.psi