Joan Miró, A Força da Matéria está em exposição no instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, São Paulo. São 40 pinturas, 22 esculturas, 20 desenhos e 25 gravuras, mas também vídeos e textos do autor, que visam oferecer uma nova interpretação a sua obra. As informações são da Revista da Cultura.
A exposição foi elaborada pela Fundação Joan Miró e estará montada no instituto até o dia 14 de novembro. Se trata do esforço em enfatizar o vocabulário de símbolos e arranjos cromáticos, com uma organização que permite observar aspectos do processo criativo do artista: a fuga dos cânones convencionais e do conceito de beleza vigentes determinam sua criação.
Segundo Katia Canton, Vice-Presidente do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MACUSP), jornalista e crítica de arte, a qualidade em Miró é sua atemporalidade. “Sua obra é eterna e universal. A linguagem poética do pintor diz respeito a todo mundo, todas as gerações, porque fala da alma humana e da beleza que é a simplicidade. Algo que transcende o dia a dia, a realidade cotidiana, e vai para uma esfera espiritual”.
A luta para ser artista
Miró nasceu em 1893, em Barcelona, seu pai era relojoeiro e joalheiro e o pressionou para adentrar à carreira burocrática. O artista, em sua investida para viver uma vida normal, entrou na escola de comércio e foi contador de uma farmácia, no entanto, não abandonou aquilo que lhe dava prazer e continuou a ter aulas de desenho no mesmo período.
Mas a vida monótona do comércio em contraste com a efervescência cultural do país o fez entrar em profunda depressão. “Miró queria ser contador, ter uma vida, digamos, normal. Então, foi trabalhar em uma farmácia, mas ficou tão desgostoso que sua saúde começou a se debilitar. Antes de completar 20 anos, teve uma febre tifoide muito grave e quase morreu. Aí, ele interpretou essa doença como uma mensagem: abandonou tudo e decidiu que seria definitivamente um artista”, conta Katia.
Em 1920 fez sua primeira viagem a Paris e se encantou com as artes de vanguarda que ali emergiam. Entrou em contato com Picasso, mestre cubista; Tristan Tzara, agitador do movimento Dada e André Breton, líder do movimento surrealista francês. Picasso, em particular, foi uma referência na vida de Miró, pois ele o viu como um bom modelo a ser seguido em sua obra, entretanto, foi necessário estabelecer um espaço entre ambos, “eles se tornam amigos, trocaram figurinhas e conviveram em Paris, mas Miró tinha uma personalidade mais introspectiva que a de Picasso. Ele era mais idealista, ganhava menos dinheiro do que o amigo e chegou um momento em que eles se separaram, pois Miró pensava que o cubista estava trabalhando de uma forma demasiado comercial”, explica Katia.
Na década de 30, começou suas experiência com colagens e se engajou na luta contra o fascismo em seu país, já nos anos 50 e 60, toma gosto pelas esculturas e nos anos 70, já famoso no mundo todo, começa um projeto de gravuras. Valter Hugo Mãe, escritor angolano radicado português, que escreveu um texto especial sobre Miró publicado no catálogo da exposição, “o interessante é perceber que a opção de Miró por uma linguagem mais despida o coloca verdadeiramente entre as sabedorias populares, como se emanasse de uma natureza efetivamente primordial, estrutural, capaz de se ausentar do que a cultura mascarou para se encontrar no ponto de partida, como alguém que reinaugura a cultura para reinaugurar a expressão”.
Joan Miró morreu aos 90 anos, deixando como legado seus símbolos, suas técnicas e seus desvio da norma, inegavelmente a alma de sua obra.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.