The Mentalist, ou O Mentalista, é uma série ao estilo Sherlock Holmes, onde o ator principal resolve casos policiais com intuição e de maneiras nada ortodoxas. Patrick Jane é um ex-medium, mas que nunca acreditou em tal dom. Era só uma técnica refinada: Jane é um ótimo observador e um grande estudioso da psicologia.
O que este seriado deixa transpassar e que segue a mesma linha do CSI é a sensação de que tudo pode ser feito com extrema rapidez. Se o CSI causa a impressão de que testes de sangue, DNA, análises gerais em um corpo e etc são feitos em questão de horas, The Mentalist faz parecer que um treinado conhecedor da psicologia consegue descrever a personalidade de um pessoa olhando… Sei lá… Sua roupa!
Rapidez Contemporânea
Em uma sociedade fluida, a velocidade se torna um atributo principal para qualquer produção cultura que pretende alcançar grandes públicos: desde músicas fáceis de ouvir (e que não duram mais de um ano na memória das pessoas) ou filmes de estímulos fortes (e que são esquecidos duas semanas depois).
Esta velocidade consegue manter uma ligação entre público e produção cultural por estar presente também no cotidiano. Não só por estar presente, mas também por ser parte integrante do sujeito pós-moderno. A velocidade, a instabilidade, a insegurança, tudo isso é colocado como algo dado que precisa ser aturado. O mundo é assim.
É dentro desta perspectiva que The Mentalist traz a velocidade a uma esfera de conhecimento do outro. Enquanto o sujeito é propagandeado como único, enquanto o livre-arbítrio é um paradigma inquebrável, ao mesmo tempo é retirado completamente toda e qualquer possibilidade de subjetivação do sujeito (com o suposto determinismo genético, por exemplo). O seriado não é muito diferente de uma tentativa de retirar até mesmo a subjetividade dos detalhes, do cotidiano. Nada faz parte de uma esfera de liberdade, ao mesmo tempo que o sujeito a detém e deve arcar com suas consequências.
Mercado Livremente Determinístico
Isso é visto também nas ações do próprio mercado. Enquanto é possível determinar o que um público-alvo gostará de consumir por meio de métodos científicos deterministas, todo e qualquer consumo é retratado como uma escolha livre do consumidor.
O consumidor escolhe livremente aquilo que foi cientificamente colocado para seu consumo em particular.
The Mentalist, desta forma, não passa de uma série produzida para um determinado público que, por sua vez, quer ver este tipo de série. Isto não justifica sua existência, mas tenta, pelo menos, explicar o por que de um programa como este ser tão popular. O por que dele existir e o por que dele ter uma audiência a priori.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
muito potente esta frase “O consumidor escolhe livremente aquilo que foi cientificamente colocado para seu consumo em particular.”. Não conheço esta série, mas penso que estas propostas, são um tipo de história de Super Herói (cientificamente comprovada), elas vendem a Cultura da Tecnocracia, a ficção que se propõe a ser retrato da ‘vida real’.
Assistir todas as temporadas e mim fiquei impressionado gostei muito gostaria que tivesse mais temporadas,