Um Cão Andaluz é o filme surrealista de Luis Buñuel e Salvador Dalí lançado em 1929 e apresentado para um grupo seleto de surrealistas, como André Breton, o autor do Manifesto Surrealista – reza a lenda que ambos os autores levaram pedras para se defender dos ataques da plateia, entretanto, todos gostaram e, além de ser a porta de entrada de Buñuel no movimento surrealista, o filme se tornou uma “leitura obrigatória” para quem deseja entrar no mundo do cinema surreal.
Primeiramente, a ideia nasceu nos sonhos de Buñuel e Dalí. Buñuel dizia ter sonhado com uma nuvem que cortava a lua como uma lâmina cortando um olho, já Dalí havia sonhado claramente com formigas saindo de suas mãos. Ambos se juntaram, pegaram dinheiro da mãe de Buñuel, de família abastada, e decidiram fazer o curta-metragem.
Segundo o Manifesto Surrealista, um dos princípios das construções de enunciados é a distância entre os significados. O inconsciente se manifesta no automatismo e a falta de lógica e linearidade representa essa lógica do inconsciente que não é lógica nenhuma para a consciência desperta.
Se trata de um filme sem significado, que quebra qualquer padrão cinematográfico da época e qualquer padrão atual, e que impossibilita qualquer interpretação objetiva. O inconsciente se expressa de maneira tão crua que não é possível saber o que está passando.
Não há como estabelecer categorias religiosas só por que há dois padres e tábuas dos dez mandamentos, assim como não é possível estabelecer categorias sociais só por que um homem é colocado em frente à parede “de castigo”. Não há categorias que se encaixem, o filme é puro caos.
Tangos e pedaços de Wagner são tocados durante o filme, que pode ser lido como um grande vídeo-clipe da combinação dessas músicas. Os efeitos especiais, como na parte em que o olho é cortado ou na cena em que as formigas saem da mão do homem, eram geniais e avançadíssimos para a época, assim como a cena de nudez e os amassos que acontecem entre um casal. Tudo aquilo que não significava nada tinha a força de um tapa na cara da sociedade de valores burgueses.
O filme é considerado como a base para o terror e para a suspense, assim como a inspiração básica de qualquer cinema fora da indústria cultural.
Veja o curta abaixo:
https://youtu.be/h2937qFIT9w?si=U69-jQIohAtIzzlI
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
Adorei o conteúdo. <3