Segundo Safatle, não é concebível que um Estado tenha poder sobre o corpo, já que esta é uma das sementes do totalitarismo. É assim que a primeira parte d’A Hora da Coruja, programa apresentado por Paulo Ghiraldelli e Francielle Chies, se desenrola.
Safatle discorre sobre a legalização do aborto e o estatuto do feto, lembrando que ele vive de maneira parasitária no corpo da mulher e esta, portanto, tem pleno poder de decisão sobre interromper ou não a gravidez.
“A questão fundamental é: ninguém pode decidir, a não ser você, aquilo que se passa no seu corpo”, afirma Safatle (tweet esta frase, clique aqui). “Há milhões de pessoas que fazem aborto no mundo inteiro, não parece ser um tipo de catástrofe ou trauma social. Ninguém vê como uma destruição moral da sociedade, já aqui, nós vemos como se fosse uma irresponsabilidade da mulher, como um assassinato. Não entendo como, para nós, é tão complicado esse tipo de coisa”.
Safatle argumenta que um dos fatores para entender a dificuldade em torno do aborto é o autoritarismo, fruto de governos militares ao longo da história do país, que ainda permeia a sociedade brasileira.
O debate é interessante devido aos questionamentos de Ghiraldelli e Francielle sobre os argumentos do professor. Toda frase é interpelada e se transforma em foco de discussão: é uma das boas características desta edição do programa. Tanto Ghiraldelli como Chies buscam compreender como o aborto pode ser descriminalizado se o feto é um ser em posição de desvantagem em relação a mãe, já Safatle se vê obrigado a replicar com foco na autoridade da própria mulher sobre seu corpo e na definição atual de vida, que tem como limite a morte cerebral.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
Já lhe ocorreram a simples ideia de que para algumas mulheres é muito mais tranquilo lidar com a morte de um embrião do que com a doação de uma criança para adoção? Que autoridade vocês possuem para determinar que a posição de vocês ė a correta e menos monstruosa? Só lamento por esta entrevista, pessoas medíocres demais para entrevistar um pensador tão ilustre quanto o Safatle….