Michel Foucault: biografia, pensamento e livros

Por Vinicius Siqueira

Índice

  1. Biografia
  2. Pensamento
  3. Livros
  4. Pesquisa: Foucault é preferido por 67,5% dos estudantes
  5. Artigos sobre o autor
  6. Foucault e a Arqueologia [E-BOOK]
  7. Homo Psychologicus [E-BOOK]
  8. Resumo
  9. Referências

Michel Foucault é um dos maiores nomes da filosofia contemporânea, foi responsável por novos caminhos na análise do poder e da história e tem relevância acadêmica fora de série.

Abaixo você verá uma introdução sobre sua vida, seu pensamento, uma lista de suas obras, nossos e-books introdutórios ao pensamento de Foucault e um resumo esquemático.

Michel Foucault pensamento e biografia

Biografia de Michel Foucault

Michel Foucault foi um intelectual que exerceu uma ação e influência consideráveis em vários ramos do saber: na filosofia, na psiquiatria, na psicologia, na história, na sociologia, na antropologia, nas artes e na política. Teve uma trajetória acadêmica brilhante e uma atuação militante política expressiva. Foi uma das cabeças mais lúcidas que nosso século passado produziu.

Oswaldo Giacoia Junior[1]

michel foucault
O jovem Michel Foucault, uma das mentes mais brilhantes do século XX.

Para iniciar uma biografia de Michel Foucault é necessário retomar seu nascimento e sua criação. O filósofo nasceu em Poitiers, no oeste da França, em 1926. Sua família era composta por inúmeros médicos: Paul-André Foucault, seu pai, foi um cirurgião famoso e filho de um conhecido médico da região cujo nome Foucault herdou; sua mãe precisou abandonar os desejos de se tornar médica, já que tal carreira não era aberta às mulheres no início do século XX, mas era filha de um médico cirurgião e seu filho, irmão mais novo de Foucault, entrou na carreira médica[2].

A medicina não foi a escolha de Foucault para sua carreira profissional, mas os discursos médicos foram parte dos trabalhos do filósofo ao longo de sua vida.

Logo cedo, ainda no ensino básico, Foucault já demonstrava interesse por filosofia, o que culminou em tensões com seu pai, rigoroso em querer vê-lo seguir a carreira médica, como a tradição da família mandara. Em 1945, se mudou para Paris e realizou um ano de estudos preparatórios para o exame de entrada à École Normale Supérieure d’Ulm, instituição de ensino com mais prestígio na área das humanidades até hoje na França. Neste período, teve aulas com Jean Hyppolite, que lhe apresentou uma interpretação particular de Friedrich Hegel e, no ano seguinte, entrou para a École Normale, onde teve aulas com Maurice Merleau-Ponty e Louis Althusser, seu mentor[3].

Sua passagem pela École foi depressiva, inclusive com uma tentativa de suicídio[4]. Se transferiu para a Sorbonne e conseguiu um diploma em psicopatologia pelo Institut de Psychologie, em 1952[5].

Entre a segunda metade da década de 50 e a durante a década de 60, Foucault foi como enviado cultural da França para diversas universidades da Europa e proximidades, passando pela Suécia, Tunísia e Alemanha.

Foucault ainda foi orientando de Georges Canguilhem, em sua tese História da Loucura na Idade Clássica, sofreu influência do proto-estruturalismo de Georges Dumézil e da linguística estruturalista de Ferdinand de Saussure. Através de Althusser, sofreu influência do marxismo e também da psicanálise[6].

Todo esse conjunto de influências foi fundamental em seu pensamento.


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Pensamento

O que o estimula, o que o move é pensar diferentemente, é pensar de outro modo […] Só alguém com uma grande liberdade de pensamento pode trazer temas novos na contramão de seu tempo.

Margareth Rago[7].

Foucault foi influenciado pela literatura francesa avant-garde, especialmente pelos escritos de Georges Bataille e Maurice Blanchot, autores que lhe mostraram um uso da fenomenologia existencialista sem assumir pressupostos filosóficos duvidosos sobre a subjetividade[8].

Ao mesmo tempo, foi muito influenciado por Marx e, em 1968, quando fundou o departamento de filosofia da Universidade Experimental de Vicennes, em Paris, o compôs com integrantes predominantemente marxistas, que se tornaram grandes filósofos de sua geração: como Alain Badiou, Jacques Rancière e Étienne Balibar[9].

As fases do pensamento de Foucault

As suas influências culminaram em estudos que, na classificação do pensamento de Michel Foucault, é costumeiro chamar de fase arqueológica, fase genealógica e na ética.

  • A fase arqueológica é reconhecida por ter foco especial na análise do discurso (próxima daquela feita por Michel Pêcheux), a análise do dito. Aqui, Foucault já experimenta o uso de ferramentas conceituais de maneira inovadora, descrevendo o discurso da loucura na História da loucura na idade clássica, O Nascimento da clínica, As palavras e as coisas e terminando no livro que mais se aproxima de um discurso do método, a Arqueologia do saber;
  • A fase genealógica contém os trabalhos de Foucault sobre o poder, Vigiar e Punir e a História da Sexualidade como livros mais reconhecidos do período;
  • Já a ética seria parte daquilo que é proposto na História da Sexualidade, como uma ética de si baseada no ideal greco de cuidado de si como parte do cuidado à própria pólis.

No entanto, Norman Madarasz é um exemplo de pesquisador que rejeita esta separação, entendendo que a arqueologia está presente em toda a obra de Foucault e, apesar do distanciamento aparente que o filósofo francês tinha com o estruturalismo, ela seria uma forma de análise estrutural que se mantém em seu trabalho como suporte e sempre em conjunto com outras formas de análise, subordinada à genealogia em um momento e depois subordinado à genealogia com extensão à análise do governo de si e dos outros.

Enquanto a genealogia funcionaria como uma maneira de inscrever os saberes assujeitados nas hierarquias das ciências e, assim, dar força para que se tornem livres, a arqueologia tem como papel principal servir à análise dos saberes.

Herdeiro declarado de Nietzsche, o pensamento de Foucault envolve uma profunda crítica às verdades pretensamente universais legitimadas pelos discursos científicos. As obras de Michel Foucault são heterogêneas, mas tudo começa com Doença Mental e Psicologia (1954), que foi um trabalho encomendado por Althusser, mas foi com História da Loucura na idade clássica, de 1961, que ele atingiu o patamar de intelectual francês de fato. Apesar de rejeitada pelos círculos marxistas da academia, preocupados em legitimar o marxismo como uma ciência, seu estudo sobre os internamentos foi inovador pelo método arqueológico e pela proposta “anti-loucura”.

O estudo de Foucault procura descobrir a verdade da loucura. Ou seja, procurar identificar o que era de fato a loucura e sua prática no renascimento. O louco, ele descobre, era muito mais do que uma pessoa com distúrbios mentais, mas era um excluído por excelência: eram internados mendigos, pessoas pródigas, mulheres que não queriam se casar e ter filhos e etc e etc. O internamento do louco era a exclusão da pessoa fora da moral. A técnica de Foucault se resume em analisar a loucura de acordo com os saberes de sua época, que significa “experimentar” a loucura na idade clássica como alguém dessa época experimentaria, ao invés de interpretá-la com algum método universal atual.

O Nascimento da Clínica, de 1963, foi uma análise do surgimento da medicina como a conhecemos e um acerto de contas com o pai – foi a maneira de se tornar filósofo “de verdade”, sem qualquer ancoramento no passado conturbado. Para Foucault, ao contrário do que pode parecer, a medicina era, de início, coletiva. Era uma medicina dos espaços e dos fluxos que foi, aos poucos, se individualizando e encontrando no próprio sujeito a sua doença.

Em trabalhos posteriores, como Vigiar e Punir, de 1975, Foucault aplica seu método genealógico para entender o nascimento da prisão como forma punitiva. É aqui que um tratamento diferenciado para o poder, como um poder disciplinar que trata de nos padronizar e normalizar, é exercido. A complexidade do poder, sistematizada mais tarde em Vontade de Saber, primeiro volume da série A História da Sexualidade, vai além de sua forma negativa, punitiva, mas atravessa os sujeitos em sua forma positiva, prescritiva, moldando os corpos para melhor lhes servirem.

O poder passa a ser visto como uma força que delimita, que não deixa fazer, mas ao mesmo tempo, como uma força de criação: se o poder fosse somente repressivo, não haveria como explicar porque seus sujeitados não se rebelam.

Nas obras de Michel Foucault, então, o papel da ligação saber-poder é determinante. Para ele, não há como falar de poder sem explicar os discursos que o legitimam, assim como não é possível falar de saber sem explicar as relações de poder que são movidas automaticamente pelos discursos. Saber e poder são nominalmente separados, mas são a mesma coisa na vida cotidiana.

Nada disso foge do sujeito. Este tripé entre Saber-Poder e sujeito está presente ao longo de seu pensamento como uma maneira de intensificar a noção do sujeito de linguagem constituído por discursos e relações de poder, ao invés de ser determinado por uma estrutura específica (como a econômica) longe de sua própria experiência cotidiana.

Com o passar do tempo, as obras de Michel Foucault se tornaram leitura obrigatória para quem deseja entender o pensamento contemporâneo. De certa forma, não saber o que Foucault tem a dizer sobre o poder e sobre o saber é estar excluído da discussão atual nas ciências humanas.

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Obras de Michel Foucault

Abaixo, a lista das principais obras de Michel Foucault e seus cursos no Collège de France:

Obras publicadas

  • Doença Mental e Psicologia (1954)
  • História da loucura na idade clássica (1961)
  • O Nascimento da clínica (1963)
  • As palavras e as coisas (1966)
  • Arqueologia do saber (1969)
  • Isso não é um cachimbo (1973)
  • Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão (org.) (1973)
  • Vigiar e punir (1975)
  • História da sexualidade (1976-?):
    • I – A vontade de saber (1976)
    • II – O uso dos prazeres (1984)
    • III – O Cuidado de Si (1984)
    • IV – Os prazeres da carne (publicado em francês em 2017)

Cursos no Collège de France

  • Aulas Sobre a Vontade de Saber (1970-1971)
  • Teorias e instituições penais (1971-1972)
  • A sociedade punitiva (1972-1973)
  • O poder psiquiátrico (1973-1974)
  • Os anormais (1974-1975)
  • Em defesa da sociedade (1975-1976)
  • Segurança, território e população (1977-1978)
  • Nascimento da biopolítica (1978-1979)
  • Do governo dos vivos (1979-1980)
  • Subjetividade e verdade (1980-1981)
  • Maldizer, dizer verdadeiro (1981) – trata-se de curso ministrado em Louvain.
  • A hermenêutica do sujeito (1981-1982)
  • O Governo de Si e dos Outros (1983)
  • O Governo de Si e dos Outros: A Coragem da Verdade (1984)

Debates e conferências

  • Natureza Humana. Justiça vs. Poder: o debate entre Chomsky e Foucault (1971)
  • A Verdade e as Formas Jurídicas (1996)

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Pesquisa mostra que Foucault é preferido por 67,5% dos estudantes

Em 2019, O Colunas Tortas iniciou uma pesquisa a fim de entender o leitor atual de análise do discurso.

Como o público do portal é feito, em sua maioria, por interessados em Michel Foucault e Michel Pêcheux, decidimos utilizar esse canal para colher os dados de 464 participantes que responderam as seguintes questões:

  • Você mora em qual estado?
  • Fez ensino superior? Se sim, qual curso?
  • Qual destes autores você prefere? (Os participantes podiam responder entre Michel Foucault, Michel Pêcheux e Mikhail Bakhtin).

Você pode ver os resultados detalhados aqui!

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Artigos sobre Michel Foucault no Colunas Tortas

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[E-book] Foucault e a Arqueologia

Michel Foucault, arqueólogo dos saberes.

Foucault e a Arqueologia, resenha de Arqueologia do Saber, de Michel Foucault.

O Guia de leitura da Arqueologia do Saber.

A análise do discurso é um dos elementos mais notáveis da filosofia de Michel Foucault, entretanto, sua escrita é tortuosa e complicada ao longo de todas as suas obras.

Suas pesquisas são complexas e exigem atenção em todo desenvolvimento.

A tarefa do e-book Foucault e a Arqueologia é guiá-lo calmamente por todo o trajeto da arqueologia do saber foucaultiana. Está em formato ePUB, pra você ler em seu celular, tablet ou computador.

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[E-book] Homo Psychologicus

Michel Foucault, filósofo francês.

Homo Psychologicus: Lendo Doença Mental e Psicologia de Foucault

E-book Homo Psychologicus: Lendo Doença Mental e Psicologia de Foucault vai te levar ao pensamento pré-arqueológico de Foucault.

Em Doença Mental e Psicologia, Michel Foucault dá seus primeiros passos em direção da arqueologia dos saberes.

Seu trabalho é elaborar uma crítica à psicologia de sua época (qual ele considerava pseudocientífica) e definir o nascimento do homo psychologicus.

homo psychologicus é o sujeito da psicologia, o homem que é feito por ela (e que, ao mesmo tempo, é causa de sua existência).

Este e-book em PDF com 98 páginas vai te conduzir pela trajetória de Foucault ao longo do livro: seu guia de leitura para entender a maneira foucaultiana de pensar.

Clique abaixo e veja!

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Resumo

Nome:Paul-Michel Foucault.
Nascimento:15/10 de 1926, Poitiers, França.
Morte: 25/06 de 1984, Paris, França.
Nacionalidade:Francês.
Campo de atuação:Filosofia; História; Análise do Discurso.
Formação:Universidade Sorbonne e Escola Normal Superior.
Influência de:Todo campo de estudos denominado de pós-estruturalismo.

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Referências

[1] GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Quem Somos Nós: Michel Foucault. Disponível em <<https://www.youtube.com/watch?v=5XcxVHo4ozc>>. Acesso em 29 jul 2019.

[2] KELLY, Mark. Michel Foucault (1926–1984). Internet Encyclopedia of Philosofers. Disponível em <<https://www.iep.utm.edu/foucault/>>. Acesso em 29 jul 2019.

[3] KELLY, Mark. Michel Foucault (1926–1984)…

[4] KELLY, Mark. Michel Foucault (1926–1984)…

[5] MARKULLA, Pirkko. Foucault, Sport and Exercise: Power, Knowledge and Transforming the Self. Routledge: 2006.

[6] GUTTING, Gary and OKSALA, Johanna, “Michel Foucault”. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2019 Edition). Edward N. Zalta: 2019. Disponível em << https://plato.stanford.edu/archives/spr2019/entries/foucault/>>. Acesso em 29 jul 2019.

[7] RAGO, Margareth. Michel Foucault: a filosofia como modo de vida. Palestra pelo Instituto CPFL. Disponível em <<https://www.youtube.com/watch?v=PDxkX6UPKKE>>. Acesso em 29 jul 2019.

[8] GUTTING, Gary and OKSALA, Johanna, “Michel Foucault”…

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43 Comentários

  1. Parece que a recusa da cúpula da igreja para a cátedra Focault, trouxe um certo frenesi. Parafraseando, até porque vi a carta de Marilena Chauí, o fato me parece “Palavras e coisas”. Portanto vamos avante.

  2. Estou gostando, está ficando bem interessante. Vai ficar mais fácil fazer estudos de aprofundamento e de comparação. Obrigada!

  3. Tenho 58 anos. Técnico em Eletrotécnica. Aposentado. Academico de Letras nas licenciaturas de Português e inglês / Acadêmico de Pedagogia / Apaixonado por Filosofia. Udesc SC

  4. Amei estes materiais sobre Foucault. Gostaria de entender profundamente este autor pelo que ele representa nos nossos tempos. Um pós moderno pós estruturalista. . . etc. Vou indicar este site.

  5. Parabéns pela divulgação, a educação é a maior arma para enfrentar as injustiças e desigualdades, especialmente em momentos tão complexos quanto ao atual. vamos à leitura, avante à vida!

  6. Gracias Vinicius.La verdad es que siempre intenté leer las obras M.Foucault peero, no soporto y llego hasta la 5ta.página. Este blog es buenísimo, ayuda mucho a entenderlo. Y cuando debo enseñar a mis alumnos en la Universidad sobre las Instituciones Totales, del poder y el dominio que se ejerce en las cárceles, los manicomios que están en vías de extinción, gracias a Dios, me vuelco a la lectura de I.GOFFMAN. Ahora, de nuevo, gracias Sr.Vinicius.

  7. Estou iniciando minha vida academica em servico social ! maravilhada com tantas informacoes … a leitura e inspiradora , o conhecimento e libertador1 amando o conteudo ! parabens !!!

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