Da série “Pensando o fascismo“.
Abaixo, algumas intervenções de Christian Dunker na mesa “Comunicação e hegemonia cultural”, do seminário internacional “Democracia em colapso?”.
O debate contou com a presença do escritor Ferréz e a cientista política Esther Solano, e teve mediação de Claudia Motta, da Rede Brasil Atual.
O fascismo está historicamente muito associado ao momento em que é possível sentir “que algo pode acontecer”. Uma espécie de contrarrevolução preventiva. Como se se algo não fosse feito rápido, aconteceria algo muito pior que deixaria em perigo nossas mulheres e crianças.
E isso justificaria os ataques, as criminalizações, a construção de inimigos em nome de uma pacificação urgente.
A gênese dessa ideia não foi muito percebida, já que ela carrega consigo o sucesso da esquerda. Podemos ler a situação atual como um fracasso da esquerda: perdeu as eleições, perdeu no debate da hegemonia, perdeu na retórica, mas num outro sentido, foi responsável pela sensação de que as coisas podem mudar.
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Freud dizia que temos dois caminhos: uma vida que foge do desprazer, uma vida do medo; ou uma vida que procura ativamente o prazer. O que aconteceu? A esquerda ficou dessexualizada. Não somos capazes de defender o valor transgressivo da sexualidade. Sexualidade virou sinônimo de reprodução, virou algo perigoso, retinto por conta da culpa.
Ou nós aprendemos nossa capacidade de sonhar e a sexualidade é impulso para isso, ou nós vamos partilhar com a direita a mesma vidinha pequena de quem está fugindo do prazer, regido pelo medo.
– Christian Dunker.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.