O curso “Perspectivas Mestiças” tratará sobre o corpo e arte contemporânea e é parte da programação de cursos e diálogos do Espaço Inanna Educação. Será ministrado neste fim de semana, pelx artistx Jota Mombaça, vinculadx ao programa de pós-graduação em ciências sociais da UFRN.
Jota Mombaça, em entrevista para o Colunas Tortas, explica que “num primeiro plano o que o curso pretende é desenhar um rastro político que trabalhe sobre esse nosso descentramento em relação à teoria e ao movimento queer anglófono, a partir de uma escuta ativa das múltiplas produções artísticas-ativistas e teóricas sudakas”. Mombaça não se ilude, entende que seu curso tem delimitações temporais e espaciais, ao mesmo tempo sabe que é necessário abordar a mutação constante do sujeito, de seu corpo, de nossas diferenças e semelhanças. Isso tudo envolve dar voz aos excluídos dos circuitos legitimados da academia ou da própria arte.
É por conta disso que esses dois encontros serão de ajuda para “excitar uma comunidade de articuladorxs que, de muitas maneiras, se conecte en contra de la heterossexualidade como regime político, do gênero como ideal regulatório, do racismo, do capacitismo, da colonialidade do poder, assim como de toda formação normativa”, diz Mombaça.
Desta forma, cruzando práticas corporais, estudos cuir/queer descoloniais e arte contemporânea, para dar voz a esses artistas-ativistas cuir/queer, sempre desconsiderados, dissidentes sexuais e de gênero, que têm como objetivo principal em seus trabalhos a descolonização das narrativas textuais e visuais que procuram conformar o corpo a uma perspectiva desencarnada.
Mas o que é esse corpo que será tratado pelo curso? A esta questão, Mombaça nos responde com extrema sensatez,
Ficção 1: corpo é topos. Lugar do mundo que habitamos e construímos. É com o que nos movemos e para onde vamos.
Ficção 2: corpo é ficção. E não existe fora dos regimes técnicos e discursivos que o elaboram.
Ficção 3: corpo é faixa de gaza. Território em disputa, onde múltiplas forças imperiais coatuam contra a potência de vida.
Ficção 4: corpo é colônia. Terra saqueada e mapeada pela colonialidade de médicos, sistemas de identificação, nanopolíticas genéticas, redes de vigilância, indústrias farmacêutica, de alimentos, pornográfica, midiática + estado policial, narcopolítica e crime como paradigma de governo.
Ficção 5: corpo é quilombo. Comunidade dissidente para onde convergem as gentes despossuídas.
Ficção 6: corpo é xamã. Ser-em-conexão com as redes de coisas e gentes, que se move entre espécies e gêneros, entre o místico e o material, o ancestral e o contemporâneo.
Ficção 7: corpo é ocupação. Temos que tomá-lo ou senão deixá-lo permanecer tomado pelo império racista, cis+supremacista, heterocapitalista e corpo-colonial.
Ficção 8: corpo é drag. Montação, apenax. Ficção 9: corpo é transformer. Androide de guerra, com farda da polícia ou com capucha negra.
Ficção 10: corpo é ciborgue. Máquina tecno-orgânica, cheia de próteses e extensões conectadas à informática da dominação, mas também às informáticas da resistência.
Ficção 11: corpo é monstro e escapole para fora dos cercados, desconcerta ficções, resiste às tentativas de definição, cruza fronteiras e está sempre em via de tornar-se outrx.
Informações
Curso: Perspectivas Mestiças
Onde: Espaço Inanna – Rua Conselheiro Ramalho, 945 | Bela Vista | São Paulo
Duração: Sábado e domingo, das 14:30 às 18:30
Valor: R$ 70,00
Clique aqui para se inscrever.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.