“Desafiem o patriarcado conforme vocês se organizam!”

Se quisermos desafiar o patriarcado, nós precisamos entender como nossas ações e suposições são influenciadas pela predominância do sexismo em nossa consciência e nas relações sociais.

Texto originalmente publicado em Beautiful Trouble

“O patriarcado é um sistema político-social que insiste em que os homens são inerentemente dominadores, superiores a tudo e a todos considerados fracos, especialmente do sexo feminino, e dotados do direito de dominar e governar sobre os fracos e manterem esse domínio através de várias formas de terrorismo psicológico e violência.” (Bell Hooks)

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Como todos os outros sistemas injustos e arbitrários de autoridade e poder, o patriarcado deve ser ativamente desafiado na organização política se quisermos alcançar a libertação coletiva. O patriarcado é um sistema de relações desiguais de poder que dá ao homem privilégios em todas as áreas de nossas vidas – social, econômica, institucional, cultural, política e espiritual – enquanto mulheres e pessoas que não se encaixam em um esteriótipo de gênero estão sistematicamente em desvantagem. O feminismo não é sobre “odiar os homens”; é sobre transformar a ideologia hierárquica e socialmente construída do patriarcado. Já que o patriarcado permeia a sociedade, não é novidade que permeie também os movimentos sociais. Por isso um compromisso com a práxis feminista que desafia o impacto tóxico do patriarcado os esforços de organização é fundamental na construção de movimentos inclusivos.

Dada a urgência de confrontar as “grandes questões” – como o poder das corporações, a militarização e destruição ambiental – o patriarcado e o sexismo dentro de nossos grupos geralmente permanecem deixados de lado. Alguns aliados do sexo masculino sentem que são incapazes de serem machistas; mas simplesmente acreditar na igualdade de gênero não apaga os privilégios masculinos. Se quisermos desafiar o patriarcado, nós precisamos entender como nossas ações e suposições são influenciadas pela predominância do sexismo em nossa consciência e nas relações sociais.

Há cinco maneiras principais através das quais o machismo se manifesta em nossos movimentos sociais:

– As mulheres enfrentam uma difícil batalha para provar sua inteligência e comprometimento como ativistas políticas;

– Reuniões políticas são dominadas por líderes e porta-vozes masculinos, enquanto o trabalho de secretariado de cozinhar, cuidar das crianças e o trabalho emocional de apoiar a comunidade em sua maioria fica a cargo das mulheres. Essa divisão de trabalho por gênero é um padrão patriarcal frequentemente reproduzido;

– As mulheres continuam a ser reduzidas a objetos sexuais. Mulheres negras e feministas são, em particular, alvo de fetiche, disfarçando as dinâmicas de racismo, gordofobia, capacitismo e de heteropatriarcado por trás de “preferências pessoais”;

– As mulheres são mais propensas a desafiar os homens em comentários machistas do que eles próprios. Dada a socialização particular das mulheres sob o patriarcado, comentários ou incidentes aparentemente menores podem deixar mulheres e pessoas que não se encaixam em esteriótipos de gênero se sentindo humilhadas ou com raiva. Mesmo assim, esses comentários tendem a ser vistos como inofensivos;

– Mulheres discutindo o machismo são comumente caracterizadas como “polêmicas” ou “exageradas” e suas preocupações são desprezadas, a menos que sejam validadas por outros homens. Isso demonstra desrespeito pela opinião das mulheres na discussão da opressão que enfrentamos;

– O feminismo não é visto como ponto central para a luta coletiva ou revolucionária; na verdade, é relegado a um assunto de interesse específico. Isso resulta na banalização das questões das mulheres, particularmente a violência contra mulheres e a justiça reprodutiva.

Transformar os papéis definidos por gênero não tem a ver com culpar ou ser culpado, e sim com o processo de aprendizagem ao longo da vida para confrontar a opressão de forma eletiva e humilde.

Algumas formas de construir comunidades pró-feministas incluem: a divisão compartilhada do trabalho; encorajar a voz e a liderança das mulheres de forma horizontal; respeitar a auto-identificação chamado pelo nome e pronome proferidos; ser proativo ao quebrar o silêncio sobre violência sexual na sociedade em geral e dentro de comunidades ativistas; tornar nossos grupos espaços seguros para levantar questões e propor alternativas; e não marginalizar as questões das mulheres nem colocar toda a responsabilidade por combater a opressão nos oprimidos.

Precisamos entender que não queremos apenas “mais” representação das mulheres; mais que isso, nós devemos ativamente facilitar e destacar as análises e as experiências das próprias mulheres, especialmente as negras, sobre o capitalismo e a opressão. Embora o patriarcado afete mulheres de forma muito mais severa, ele distorce a humanidade de todos os gêneros e reduz nossa habilidade de nos relacionarmos uns com os outros.

Acabar com o patriarcado não é apenas uma responsabilidade coletiva – trata-se, em última análise, do crescimento pessoal e interpessoal e da libertação coletiva.

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