Friedrich Nietzsche: biografia, principais ideias e livros

Autor: Vinicius Siqueira

Índice

Friedrich Nietzsche: uma biografia

Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche foi um influente filósofo alemão.

Friedrich Nietzsche foi um dos filósofos mais influentes da moderndiade. É responsável por apontar uma saída ao racionalismo e fornecer bases à crítica epistemológica e ontológica que seria construída no século XX.

O autor viveu similar a um ermitão. Sempre isolado, passou de gênio a louco, sofreu com duras críticas de estudiosos da época e aguentou o peso da carreira acadêmica ainda jovem.

No início, grande amigo de Wagner, no fim, ódio ao antissemitismo wagneriano: Nietzsche foi um mar de provocações e inventividade.

Nascimento de Nietzsche

Friedrich Nietzsche nasceu em 15 de Outubro de 1844 em uma pequena vila da Alemanha chamada Röcken. A data de seu nascimento coincidiu com o 49º aniversário do rei da Prússia, Friedrich Wilhem IV, que serviu de inspiração para seu nome. O monarca foi responsável por tornar o pai de Nietzsche, Karl Ludwig Nietzsche, o Ministro luterano da cidade (as informações são da Stanford University e do site Open Culture).

Curso de filosofia do professor Anderson

Quando Nietzsche recém completou cinco anos de idade, seu pai foi vítima de um derrame cerebral e não resistiu. Num golpe macabro, seis meses depois da morte do pai, Nietzsche foi submetido ao sofrimento de presenciar o falecimento de seu irmão de dois anos. A família de Nietzsche se mudou rapidamente para Naumburg, onde o futuro filósofo viveu sua vida com a irmã, tias, a avó e a mãe.

Em sua adolescência, Nietzsche estudou na escola preparatória Schulpforta, que já tinha recebido alunos como o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte (1762–1814) e foi lá que conheceu Paul Deussen (1845–1919), amigo de toda vida, que viria a se tornar historiador da filosofia e fundador da Schopenhauer Society. O jovem Friedrich Nietzsche fundou um clube de literatura e música na escola preparatória, onde admirava o músico Wagner, os escritores românticos Friedrich Hölderlin e Jean-Paul Richter e lia a obra controversa de David Strauss, A Vida de Jesus Cristo Analisada Criticamente.

Retrato de Friedrich Niezsche quando jovem, 1861. Fonte: domínio público.
Retrato de Friedrich Niezsche quando jovem, 1861. Fonte: domínio público.

Vida adulta

Depois de se formar, o passo seguinte de Friedrich Nietzsche foi entrar para a Universidade de Bonn, em 1864, como estudante do curso de Teologia e Filologia. Como provavelmente deduziríamos, o jovem universitário inclinou seus estudos para a filologia, tendo como professores principais Otto Jahn (1813–1869), especialista em Lucrécio e inventor do método genealógico da análise textual, e Friedrich Wilhelm Ritschl (1806–1876), de trabalho centrado em Plautus (254–184 BC), poeta cômico romano.

No ano seguinte, Nietzsche seguiu Ritschl para a Universidade de Leipzig e lá começou a dar consistência à sua carreira acadêmica, publicando artigos sobre poetas do século sexto antes de cristo. Mas a grande relevância dos estudos em Leipzig foi o encontro  (por acaso) com O Mundo Como Vontade e Representação, de Arthur Schopenhauer: seu estilo ateu e sua crítica voraz ao mundo lhe conquistou.

Nietzsche quando recebe o cargo de professor.

Com 23 anos, foi chamado para o serviço militar obrigatório, do qual foi dispensado após um ferimento no peito. Ao voltar para Leipzig, Nietzsche conhece Wagner (1813–1883) na casa de Hermann Brockhaus (1806–1877), orientalista casado com a irmã do compositor. Brockhaus era especialista em sânscrito e persa, e de suas publicações podemos citar Vendidad Sade, texto da religião Zoroastra, cujo profeta era Zaratustra.

Wagner e Nietzsche se tornaram grandes amigos e ambos compartilharam grande interesse por Schopenhauer. Nietzsche, que havia composto obras para o piano, coral e orquestra desde a adolescência, tinha grande admiração pelo músico alemão devido à sua genialidade, personalidade atraente e influência cultural. A relação entre ambos era tão fraternal que em 1882, o filósofo escreveu sobre os dias que passou junto à Wagner como seus melhores dias da vida. Neste meio tempo, Ritschl recomendou Friedrich Nietzsche para uma vaga de professor de filologia na Universidade da Basileia, na Suíça. Nietzsche iniciou seu trabalho em maio de 1869, ainda com 24 anos de idade.

Friedrich Nietzsche: biografia e Wagner

Foi na Basileia que Nietzsche encontrou Jacob Burkhardt (1818–1897), que se tornaria um de seus amigos próximos, inclusive sendo importante após seu primeiro colapso em 1889. No ano seguinte à chegada na universidade, Nietzsche participou, como assistente em um hospital (1870-71), da Guerra Franco-Prussiana, contraindo disenteria e difteria.

Devido aos seus estudos sobre a língua, sua paixão pela obra de Schopenhauer, seu interesse pela temática da saúde e sua necessidade de se colocar como bom acadêmico (mesmo que ainda jovem), Friedrich Nietzsche “pari” seu primeiro livro: O nascimento da tragédia, publicado em janeiro de 1872. O livro foi recebido com uma crítica mordaz e ácida de Ulrich von Wilamowitz-Möllendorff (1848-1931), filólogo de renome naquela época. Wilamowitz-Möllendorff, que também havia estudado na mesma instituição que Nietzsche em sua infância, atribuía ao filósofo o adjetivo de “desgraça de Schulpforta”, pelo seu estilo exagerado de escrita e por redigir uma história completamente não uniforme.

Em 1873, Nietzsche conheceu Paul Rée, com quem teve um triângulo amoroso junto a Lou Salomé. Rée foi um grande filósofo, também estudioso de Schopenhauer. Em 1878, o autor lança Humano, Demasiado Humano, mesmo ano em que rompe com o antissemita Wagner. Um ano depois, já com dores de cabeça intensas, Nietzsche deixou a Universidade ainda com 34 anos e passou a levar uma vida nômade: sem local fixo para morar, sem sua cidadania alemã e, sem ter adquirido a cidadania suíça, passa a viajar por toda a Europa, procurando por um ambiente tranquilo para seu pensamento e sua saúde já deteriorada.

Nietzsche e sua filosofia

Este período nômade, logo após o encontro com Lou Salomé em 1881, lhe rendeu grande obras: A Gaia Ciência (1882-87), Assim Falou Zaratustra (1882-85), Além do Bem e do Mal (1886) e a Genealogia da Moral (1887). O último ano criativo de Nietzsche, 1888, foi quando ele completou O Caso Wagner (maio-agosto), Crepúsculo dos Ídolos (agosto-setembro), O Anticristo (setembro), Ecce Homo (outubro-novembro) e Nietzsche Contra Wagner (dezembro).

Já na manhã do dia 3 de janeiro de 1889, em Turin, Nietzsche passou por um colapso mental que o deixou inválido pelo resto de sua vida. O filósofo, após ver um cavalo sendo açoitado no Piazza Carlo Alberto – apesar deste episódio poder ser considerado somente anedótico – abraçou-o pelo pescoço, tendo seu colapso e nunca mais voltado à total sanidade.

Morte

Alguns dizem que Nietzsche sofreu uma infecção por sífilis (que foi o diagnóstico original dos médicos em Basel e Jena), contraída enquanto ainda era um estudante ou quando servia ao exército da Prússia na guerra; outros dizem que o uso de hidrato de cloral, uma droga utilizada como sedativo, definhou seu já doente sistema nervoso; alguns especulam que seu colapso tem a ver com uma doença adquirida de seu pai; já outros afirmam que Nietzsche sofreu da síndrome de CADASIL, uma desordem hereditária. A causa exata da queda do filósofo ainda não foi esclarecida, o que sabemos é que ele tinha uma forte constituição nervosa e chegou a tomar uma grande gama de medicamentos.

Para complicar ainda mais as interpretações sobre sua doença, Nietzsche afirmou em uma carta, em 1888, que nunca teve nenhum sintoma de desordem mental, enquanto Rée, em 1897, escreveu uma carta contando o desequilíbrio frequente de Nietzsche.

Friedrich Nietzsche em momentos antes de sua morte

A popularização de Nietzsche começou em 1888, a partir de seminários de Georg Brandes na Universidade de Copenhagen, que chegou a lhe indicar Kierkegaard, mas infelizmente não pôde ser lido devido a crise nervosa de Nietzsche nos anos seguintes. Em 1889, Nietzsche é hospitalizado na Basileia, depois passou um ano em um sanatório na cidade de Jena. Já em 1890, sua mãe o levou de volta para casa e foi sua cuidadora pelos próximos sete anos, até sua morte.

Com a morte da mãe, a irmã Elisabeth ficou com a responsabilidade de cuidar de Nietzsche. Ela havia voltado do Paraguai em 1893, depois de ter criado Aryan, uma colônia antissemita chamada New Germany (Nueva Germania). Ela foi a responsável pela edição antissemita do pensamento de Nietzsche e ficou responsável por todos os seus manuscritos.

No dia 25 de agosto de 1900, quase com 56 anos, Nietzsche morreu na residência que sua irmã o colocou. A causa da morte foi um misto de pneumonia e um ataque nervoso. Seu corpo foi transportado para o cemitério onde o resto de sua família estava sepultada, na vila de Röcken. A casa onde estavam seus manuscritos, a Villa Silberblick, se transformou em um museu e, desde 1950, eles foram armazenados no arquivo Goethe-und Schiller-Archiv, em Weimar.

Friedrich Nietzsche: principais ideias

Sabemos que é importante introduzir ao leitor alguns conceitos da filosofia de Nietzsche. Cada conceito contém um link para um texto que o explica com mais cuidado. Também temos consciência que nossa lista de conceitos não pode parar de crescer: cada novo texto, seja nosso ou de qualquer outro bom site, que trate dos conceitos de Nietzsche, terão espaço nestas breves descrições introdutórias.

A morte de Deus

Deus morrer parece ser uma contradição, afinal, se é Deus, não pode morrer e, caso morra, então não é Deus. Nietzsche não era burro, entendia que sua frase era uma contradição em termos, mas este erro aparente guarda um significado maior: a morte de deus é a morte de um jeito específico de se pensar.

A morte de Deus acontece quando nossa vida deixa de ter como referência a religião e passa a ser guiada por nós mesmos. “Deus é o nome para o âmbito das idéias e do ideal”, afirma Heidegger. É aí que a estrutura religiosa do pensamento morre. Mas o mais interessante talvez seja o horizonte da morte de Deus: a vida plena, a vida da criação.

A superação da morte de Deus, sem cair num niilismo passivo, é a força da criação, é a concretização do espírito livre, aquele que não se submete a nada e cria seus próprios valores.

A Genealogia

Em seus esforços para fugir das teleologias da filosofia da história e da cientificidade castradora da disciplina História, Nietzsche cria uma filosofia histórica – mais tarde chamada de genealogia.

Esta filosofia histórica não pretendia traçar uma história oficial e nem definir as leis de seu desenvolvimento. O que interessa para a genealogia é a autoafirmação dos agentes, é a interpretação do mundo segundo à vontade de potência.

Isso quer dizer que uma genealogia é uma maneira de traçar as contingências sobre um objeto em específico a partir daquilo que é útil à extensão infinita da potência, à dominação, à autoafirmação.

Nietzsche: deus está morto!

A moral

A moral é uma força de valoração. É aquilo que constitui o homem, o faz viver o mundo de um dado jeito, é “o ponto para o qual converge toda predicação da natureza do homem e de suas ações”, segundo Érico de Andrade Oliveira.

A moral como entendemos, como uma força castradora, é a moral dos fracos: criada pelo dominado para inverter a valoração de bom e mau, e bom e ruim. É com a moral que os fracos podem deixar de ser ruins e passar a ser bons, e fazendo dos fortes, indivíduos maus.

No caso dos fortes, a moral é sempre potência buscando potência, é sempre dominação e extensão da própria força.

Vontade de potência

A “vontade de potência”, conceito central na filosofia de Friedrich Nietzsche, refere-se a um impulso ontológico fundamental que permeia todos os seres vivos, manifestando-se como o desejo inerente de afirmação, expansão, superação e exercício do próprio poder e influência. Nietzsche propõe que, em lugar de o ser humano ser guiado por uma mera vontade de sobreviver ou de buscar a felicidade, como sugerem outras correntes filosóficas, ele é impulsionado por uma vontade de potência, isto é, um impulso primário de expressar e ampliar sua força vital.

Este conceito não deve ser limitado à compreensão tradicional de poder como domínio ou controle sobre os outros. Ao contrário, a vontade de potência, para Nietzsche, está profundamente enraizada na capacidade de criação, transformação, auto-superação e expressão autêntica do próprio ser. Assim, a vontade de potência transcende as noções convencionais de moralidade, permitindo que o indivíduo forje seus próprios valores e viva segundo uma ética autônoma, independentemente das normas sociais impostas.

Além disso, Nietzsche argumenta que a vontade de potência é a força motriz subjacente às grandes transformações culturais e realizações humanas. Esta força se manifesta não apenas nas ações grandiosas, mas também nos desejos e impulsos mais sutis, sendo observável em todos os aspectos da existência, desde a luta pela sobrevivência até as criações artísticas e filosóficas. Assim, a vontade de potência configura-se como um princípio vital dinâmico, que impulsiona o contínuo processo de autoafirmação e desenvolvimento do ser.

O niilismo

Niilismo é um processo. Ninguém é niilista porque quer ou porque sente-se bem sendo assim. O niilismo, como é entendido por Nietzsche, é um processo de corrupção do homem, ou seja, um processo de decadência de sua vida instintiva para uma vida moral.

A vida moral é niilista, pois nega a vida em favor de um além-vida ou de uma vida perfeita que nunca vai existir. O niilismo, portanto, é negar a vida, negar a efetividade, negar as coisas como são, é acreditar no paraíso cristão, na utopia socialista ou seja lá qual mundo perfeito for (como a utopia do livre mercado ou o mundo perfeito da auto-organização).

Nietzche e suas principais ideias

O eterno retorno

O conceito de eterno retorno, ou eterno retorno do mesmo, é uma ideia filosófica desenvolvida por Friedrich Nietzsche. Ela representa um desafio ético em que o autor propôe a consideração de que o universo e todos os eventos nele se repetem eternamente em um ciclo infinito, cada momento da vida, cada experiência e cada ação que você vive agora se repetirão infinitamente da mesma forma.

Nietzsche usa essa ideia como uma ferramenta para explorar a aceitação da vida e dos seus desafios. Ele pergunta se seríamos capazes de viver nossas vidas exatamente da mesma maneira se soubéssemos que teríamos que reviver tudo eternamente.

É um convite para refletir sobre nossas escolhas e a autenticidade de nossas ações. Se conseguirmos aceitar e amar nossas vidas como elas são, com todas as suas alegrias e sofrimentos, então estaríamos vivendo verdadeiramente de acordo com o ideal do eterno retorno.

Super-homem

Nietzsche propõe a ideia do “super-homem” como uma forma de superar a moralidade tradicional e os valores transcendentes que ele vê como negadores da vida. Segundo Nietzsche, a moral de escravo, que valoriza a vida após a morte e nega o mundo terreno, impede a plena afirmação da vida presente.

O super-homem é o indivíduo que transcende essas limitações, abraçando a vida em sua totalidade, sem se submeter a normas e valores externos. Esse ser vive autenticamente, cria seus próprios valores, e afirma sua força vital e instintiva, rejeitando a moralidade que desvaloriza o corpo e a vida terrena.

O super-homem representa a máxima expressão da vontade de poder, um ser livre das restrições impostas por tradições e ideais religiosos, que celebra a vida e sua complexidade em vez de aspirar a um além-mundo.

Friedrich Nietzsche e sua biografia

Friedrich Nietzsche: influência no século XX

O pensamento de Nietzsche teve grande influência no século XX, principalmente na Europa Continental, embora nos países anglofônicos, tenha tido pouca recepção positiva. Durante a última década de sua vida e na primeira década do século XX, suas ideias atraíram artistas avant-garde, que se viam na periferia da sociedade normativa estabelecida, tanto em seu jeito de ver as coisas como em sua maneira de fazer arte. Para eles, Nietzsche servia como um estandarte para a criação, para a vida plena e para a arte explosiva e empolgante.

Freud, por sua vez, viu nas explicações de Nietzsche sobre os valores sociais uma influência a ser seguida. O filósofo alemão é famoso por atribuir a volições, instintos e à animalidade, a nossa vida moral. Teve, portanto, importância crucial no desenvolvimento da psicanálise.

Na década de 30, como todos sabemos, o partido nazista, de Hitler, e o partido fascista, de Mussolini, absorveram partes da filosofia nietzscheana. Conclui-se que a influência de passagens da obra de Nietzsche ao autoritarismo de direita seja fruto das ligações que estes movimentos tiveram com Elisabeth Förster-Nietzsche (que teve contato com ambos os ditadores). A irmã de Nietzsche compartilhava com os mesmo objetivos políticos dos nazistas e produziu uma edição da obra do filósofo para favorecer leituras que justificavam a guerra, dominação e agressão em nome de ideais nacionalistas e de supremacia racial.

Por outro lado, na França, até os anos 60, Nietzsche era utilizado principalmente por artistas e escritores, já que a acadêmia era dominada pelo pensamento de Hegel, Husserl e Heidegger, indo pro estruturalismo nos anos 50. Só houve espaço pro pensamento de Nietzsche nos círculos de filosofia a partir dos anos 60: até os anos 80, seu perspectivismo, a declaração “Deus está morto” e sua ênfase no poder como um real motivador e objeto privilegiado para explicar as ações das pessoas estabeleceu um jeito novo de desafiar a autoridade e lançar contra ela uma crítica social devastadora. Nos países anglófonos, a infeliz associação de Nietzsche com o nazismo o retirou de cena nos anos 50 e 60, talvez os marcos dos estudos sobre o autor nesses países sejam Nietzsche: “Philosopher, Psychologist, Antichrist” (1950) de Walter Kaufmann e “Nietzsche as Philosopher” (1965) de Arthur C. Danto.

Podemos citar alguns artistas, filósofos, historiadores, poetas, novelistas, psicólogos, sociólogos e músicos influenciados por Nietzsche no século XX: Alfred Adler, Georges Bataille, Martin Buber, Albert Camus, E.M. Cioran, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Isadora Duncan, Michel Foucault, Sigmund Freud, Stefan George, André Gide, Hermann Hesse, Carl Jung, Martin Heidegger, Gustav Mahler, André Malraux, Thomas Mann, H.L. Mencken, Rainer Maria Rilke, Jean-Paul Sartre, Max Scheler, Giovanni Segantini, George Bernard Shaw, Lev Shestov, Georg Simmel, Oswald Spengler, Richard Strauss, Paul Tillich, Ferdinand Tönnies, Mary Wigman, William Butler Yeats e Stefan Zweig.

Com toda certeza, Friedrich Nietzsche foi um dos poucos autores que, mesmo em terríveis condições de saúde, pôde escrever e botar seus pensamentos no papel. É provável que a maioria das pessoas nem teria coragem de pegar uma caneta nesta situação. E até mesmo em seu anos de maior sofrimento, foi capaz de escrever livros que influenciaram grande parte dos principais autores europeus do século XX.

Friedrich Nietzsche e seu pensamento

Principais livros de Nietzsche

Abaixo, a lista com os principais livros de Friedrich Nietzsche:

  • O Nascimento da Tragédia (1872)
O nascimento da tragédia, de Friedrich Nietzsche.
O nascimento da tragédia, de Friedrich Nietzsche. Clique aqui e compre o livro.

“O Nascimento da Tragédia” (1872), de Friedrich Nietzsche, é uma obra que explora as origens da tragédia grega e a dualidade entre os impulsos apolíneo e dionisíaco na cultura. Nietzsche argumenta que a tragédia surgiu da fusão desses dois elementos: o apolíneo, associado à ordem, harmonia e racionalidade, e o dionisíaco, relacionado ao caos, êxtase e emoção.

O impulso apolíneo é representado pelo deus Apolo, que simboliza a luz, a beleza e a forma, refletindo o lado racional e disciplinado da existência humana. Em contraste, o impulso dionisíaco é encarnado por Dionísio, o deus do vinho e da loucura, que representa a destruição das fronteiras entre o indivíduo e o mundo, levando a uma experiência de unidade com a natureza e o cosmos.

Nietzsche critica a cultura ocidental por valorizar excessivamente o apolíneo em detrimento do dionisíaco, o que, segundo ele, leva a uma sociedade estagnada e sem vitalidade. Ele elogia os antigos gregos por terem equilibrado esses impulsos na tragédia, criando uma forma de arte que expressava a totalidade da experiência humana. A obra é uma crítica à modernidade e um apelo ao resgate do espírito dionisíaco na cultura.

  • A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos (1873)
A Filosofia na era Trágica dos Gregos, de Friedrich Nietzsche.
A Filosofia na era Trágica dos Gregos, de Friedrich Nietzsche. Clique aqui e compre o livro.

“A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos” (1873), de Friedrich Nietzsche, é uma obra que examina o desenvolvimento do pensamento filosófico na Grécia antiga, destacando a importância dos primeiros filósofos pré-socráticos. Nietzsche se concentra em figuras como Tales, Anaximandro, Heráclito, Parmênides e Empédocles, explorando como suas filosofias refletem uma visão de mundo que ele considera trágica, no sentido de que enfrentam diretamente a realidade do sofrimento, da mudança e do conflito inerente à existência.

Nietzsche argumenta que esses pensadores expressaram uma sabedoria profunda, que reconhece a transitoriedade e a imperfeição da vida, em contraste com a filosofia posterior, que ele vê como excessivamente racionalista e otimista. Ele considera que a filosofia trágica dos gregos é marcada por uma aceitação do fluxo constante do mundo e pela tentativa de entender o cosmos em sua totalidade, sem recorrer a explicações metafísicas simplistas.

A obra também critica a filosofia socrática e platônica, que, segundo Nietzsche, representam um afastamento dessa visão trágica em favor de uma abordagem que privilegia a razão e a busca pela verdade eterna. Para Nietzsche, os pré-socráticos representam um momento de grandeza na história do pensamento humano, onde a filosofia ainda estava profundamente conectada à vida e ao mundo real.

  • Considerações Intempestivas (1873 a 1876)

“Considerações Intempestivas” (1873-1876) é uma coletânea de quatro ensaios escritos por Friedrich Nietzsche, que criticam aspectos da cultura e da sociedade europeia de sua época. Em cada um dos ensaios, Nietzsche analisa diferentes figuras e conceitos, buscando revelar o que ele considera como falhas e limitações no pensamento e na vida cultural contemporânea.

1. “David Strauss, o Confessor e o Escritor” (1873): Neste primeiro ensaio, Nietzsche critica o teólogo David Strauss e sua obra “A Velha e a Nova Fé”, acusando-o de mediocridade intelectual e de promover uma versão vulgar e superficial do espírito científico e da fé, que carece de profundidade filosófica.

Segunda consideração intempestiva, de Nietzsche.
Segunda consideração intempestiva, de Nietzsche. Clique aqui e compre!

2. “Da Utilidade e Desvantagem da História para a Vida” (1874): No segundo ensaio, Nietzsche argumenta contra o uso excessivo da história como uma ciência acadêmica. Ele sugere que o estudo da história deve servir à vida, inspirando ação e criatividade, em vez de paralisar o indivíduo com excesso de informação e análise.

3. “Schopenhauer como Educador” (1874): O terceiro ensaio é uma defesa apaixonada do filósofo Arthur Schopenhauer, que Nietzsche apresenta como um modelo de autenticidade e profundidade filosófica. Para Nietzsche, Schopenhauer é um exemplo de um pensador que vive em conformidade com suas ideias e que resiste às tendências conformistas da sociedade.

4. “Richard Wagner em Bayreuth” (1876): Neste último ensaio, Nietzsche aborda a figura do compositor Richard Wagner, a quem ele admirava profundamente na época. No texto, ele exalta Wagner como um gênio artístico que poderia revitalizar a cultura alemã, embora mais tarde, Nietzsche romperia com Wagner, criticando o que ele via como uma decadência no pensamento e na arte do compositor.

No conjunto, “Considerações Intempestivas” reflete o desejo de Nietzsche de desafiar o status quo cultural de sua época e de promover um retorno a valores que ele considerava mais autênticos e profundos.

  • Humano, Demasiado Humano (1886)
Humano, Demasiado Humano, de Nietzsche.
Humano, Demasiado Humano, de Nietzsche. Clique aqui e compre!

“Humano, Demasiado Humano” (1886) é uma obra de Friedrich Nietzsche que marca um ponto de virada em sua filosofia, refletindo uma transição de seu pensamento mais romântico e influenciado por Schopenhauer para uma abordagem mais crítica e racionalista. Composto por uma série de aforismos, o livro é uma análise incisiva dos valores morais, culturais e intelectuais da época, e busca desmistificar muitas das ideias consideradas sagradas ou inquestionáveis.

Nietzsche examina temas como a moralidade, a religião, a arte e a ciência, questionando a origem e a validade de conceitos como o bem e o mal, e sugerindo que eles são construções humanas, influenciadas por fatores históricos e psicológicos. Ele critica a metafísica tradicional e propõe uma filosofia mais próxima da vida, focada na realidade concreta e nos aspectos humanos da existência.

A obra também é conhecida por seu tom mais cético e desiludido, refletindo a desconfiança de Nietzsche em relação às ilusões consoladoras da religião e da filosofia. “Humano, Demasiado Humano” é um texto fundamental para entender a evolução do pensamento de Nietzsche, mostrando seu afastamento das influências iniciais e seu movimento em direção a uma crítica mais profunda da cultura e da moralidade ocidental.

  • Aurora (1881)

“Aurora” (1881), de Friedrich Nietzsche, é uma obra que aprofunda a crítica às crenças morais e religiosas que ele iniciou em textos anteriores. Composta em forma de aforismos, a obra é uma reflexão sobre a moralidade, o comportamento humano e a cultura ocidental. Nietzsche questiona a origem dos valores morais, argumentando que eles não são absolutos, mas sim construções históricas e sociais que servem a determinados interesses.

Nietzsche propõe uma “genealogia da moral”, investigando como conceitos como o bem e o mal se desenvolveram ao longo do tempo, muitas vezes como ferramentas de controle social. Ele critica a moral cristã por sua tendência de suprimir os instintos e as paixões humanas, promovendo a submissão e a renúncia em vez da afirmação da vida.

O título “Aurora” simboliza a ideia de um novo começo, uma “despertar” para uma nova forma de pensar que se liberta das antigas concepções morais. Nietzsche incentiva os leitores a questionar as tradições e a abraçar uma postura mais crítica e investigativa diante das normas estabelecidas. A obra é um passo importante na evolução do pensamento de Nietzsche, marcando a transição para suas ideias mais maduras e a preparação para obras posteriores, como “Assim Falou Zaratustra”.

  • A Gaia Ciência (1882)

“A Gaia Ciência” (1882), de Friedrich Nietzsche, é uma obra que marca um momento crucial em sua filosofia, combinando reflexões profundas sobre a vida, a arte, a moralidade e o conhecimento com um estilo leve e aforístico. O título, que em alemão é “Die fröhliche Wissenschaft”, pode ser traduzido como “A Alegre Ciência” ou “A Ciência Jovial”, e reflete o espírito de celebração e leveza com que Nietzsche aborda temas filosóficos.

Neste livro, Nietzsche explora a ideia de que a vida deve ser vivida de forma afirmativa, celebrando a existência com alegria, mesmo diante das suas dificuldades e incertezas. É nesta obra que ele introduz o conceito do “eterno retorno”, a ideia de que a vida se repete infinitamente, e a famosa declaração “Deus está morto”, que simboliza o colapso das antigas certezas religiosas e morais na era moderna.

“A Gaia Ciência” também discute a importância da arte e da criação como formas de resistência ao niilismo e de afirmação da vida. Nietzsche exalta a capacidade humana de criar significado e de viver com paixão, mesmo em um mundo desprovido de valores absolutos. A obra é uma celebração do potencial humano para a transformação e a reinvenção, preparando o terreno para seus trabalhos posteriores.

  • Assim Falou Zaratustra (1883 – 1885)

“Assim Falou Zaratustra” (1883-1885) é a obra mais emblemática de Friedrich Nietzsche, escrita em um estilo poético e profético, que narra as jornadas e ensinamentos de Zaratustra, um personagem inspirado no profeta persa Zoroastro. O livro é dividido em quatro partes e explora temas centrais ao pensamento de Nietzsche, como o “super-homem” (Übermensch), o “eterno retorno” e a “morte de Deus”.

Zaratustra desce das montanhas após dez anos de meditação para compartilhar sua sabedoria com a humanidade. Ele proclama a morte de Deus, simbolizando o colapso dos valores tradicionais e a necessidade de criar novos valores que afirmem a vida. Zaratustra critica as antigas moralidades e propõe a ideia do super-homem, um ser que transcende as limitações humanas e vive de acordo com sua própria vontade, criando seus próprios valores.

O conceito do eterno retorno, outro tema crucial da obra, desafia os leitores a imaginar se conseguiriam suportar viver suas vidas repetidamente, indefinidamente, tal como são. Isso coloca em questão como vivemos e como lidamos com nossas escolhas e destinos.

“Assim Falou Zaratustra” é uma obra complexa, repleta de simbolismo, que exige uma leitura cuidadosa. Ela representa o auge do pensamento de Nietzsche e seu apelo para a superação dos antigos valores em favor de uma nova filosofia de vida, voltada para a afirmação, a criação e a autossuperação.

  • Além do Bem e do Mal (1886)

“Além do Bem e do Mal” (1886) é uma das obras mais influentes de Friedrich Nietzsche, na qual ele aprofunda sua crítica à moralidade ocidental e às filosofias tradicionais. O livro é uma coleção de aforismos e reflexões que desafiam a concepção convencional de moralidade, questionando as noções de verdade, bem e mal.

Nietzsche argumenta que a moralidade tradicional, especialmente a moral cristã, é baseada em uma série de ilusões e convenções que servem para manter o status quo e limitar o potencial humano. Ele critica a ideia de que existe uma verdade absoluta ou uma moral universal, propondo que os valores são sempre relativos e construídos a partir das perspectivas de poder e interesse.

Uma das principais contribuições da obra é o conceito de “vontade de poder”, que Nietzsche descreve como o impulso fundamental que motiva todas as ações humanas, uma força criativa que busca afirmar e expandir a vida. Ele também introduz a noção de “moral de senhores” e “moral de escravos”, em que a primeira é caracterizada pela afirmação da vida e pelo poder, enquanto a segunda é marcada pela resignação e ressentimento.

“Além do Bem e do Mal” é uma crítica incisiva à metafísica, à religião e à moralidade tradicional, defendendo a necessidade de reavaliar todos os valores e de adotar uma postura mais corajosa e criativa diante da vida.

  • Genealogia da Moral, uma Polêmica (1887)

“A Genealogia da Moral, uma Polêmica” (1887) é uma das obras mais importantes de Friedrich Nietzsche, na qual ele aprofunda sua crítica à moralidade ocidental por meio de uma análise histórica e psicológica. Dividido em três dissertações, o livro explora as origens e as implicações das noções de bem e mal, culpa e ressentimento, questionando como essas ideias moldaram a cultura e a sociedade.

Na primeira dissertação, Nietzsche traça a origem da moralidade em duas formas distintas: a “moral de senhores”, que valoriza força, poder e nobreza, e a “moral de escravos”, que surgiu como uma reação ressentida dos mais fracos contra os fortes. Ele argumenta que a moral de escravos, associada ao cristianismo, inverteu os valores dos senhores, exaltando a humildade, a fraqueza e a submissão.

A segunda dissertação examina o conceito de culpa e dívida, propondo que esses sentimentos têm raízes em uma forma primitiva de relacionamento econômico entre credores e devedores. Nietzsche sugere que a internalização desses sentimentos levou à criação da “má consciência”, onde os instintos naturais são reprimidos e voltados contra si mesmos, resultando em autossabotagem.

Na terceira dissertação, Nietzsche critica o ascetismo, particularmente na forma religiosa, como uma expressão de negação da vida. Ele vê o ascetismo como uma forma de autoanulação que rejeita os impulsos vitais em favor de um ideal de pureza e negação dos prazeres terrenos.

“A Genealogia da Moral” é uma obra fundamental para entender a crítica nietzschiana à moralidade tradicional e sua proposta de uma reavaliação dos valores que governam a sociedade. Nietzsche desafia o leitor a questionar as bases morais que sustentam a civilização ocidental e a explorar a possibilidade de novos valores mais afirmativos da vida.

  • O Crepúsculo dos Ídolos (1888)

“O Crepúsculo dos Ídolos” (1888), de Friedrich Nietzsche, é uma obra que resume e expande as críticas fundamentais que o filósofo formulou ao longo de sua carreira, atacando as “ídolos” da cultura ocidental—os conceitos, ideais e figuras veneradas que ele considerava prejudiciais e decadentes. O título completo, “O Crepúsculo dos Ídolos, ou Como se Filosofa com o Martelo”, reflete a intenção de Nietzsche de destruir as ilusões e valores tradicionais que, segundo ele, enfraquecem o espírito humano.

O livro é composto por vários ensaios curtos e aforismos que abordam temas como a moralidade, a filosofia, a religião e a cultura. Entre as seções mais conhecidas estão:

– “O Problema de Sócrates”: Nietzsche critica Sócrates como o responsável pelo surgimento de uma filosofia que valoriza excessivamente a racionalidade em detrimento dos instintos e da vida.

  • “A ‘Razão’ na Filosofia”: Aqui, ele condena a tradição filosófica que, desde Platão, busca um mundo ideal e eterno, ignorando o mundo real e sensível.

– “A Moral como Anti-Natureza”: Nietzsche argumenta que a moralidade tradicional vai contra os instintos naturais do ser humano, promovendo a repressão em vez da afirmação da vida.

– “Os Quatro Grandes Erros”: Ele expõe o que considera serem os erros fundamentais da humanidade: confundir causa e efeito, atribuir responsabilidade moral aos indivíduos, projetar falsas intenções na natureza, e acreditar no livre-arbítrio.

– “O que devo aos Antigos”: Nietzsche discute sua dívida intelectual com os filósofos pré-socráticos e critica o cristianismo por distorcer seus ensinamentos.

“O Crepúsculo dos Ídolos” é uma obra polêmica e provocadora, na qual Nietzsche busca destruir os “ídolos” que sustentam as crenças tradicionais, propondo uma filosofia que celebra a vida, a força e a criatividade. É uma introdução poderosa ao pensamento de Nietzsche e uma síntese de suas ideias mais radicais.

  • O Anticristo (1888)

“O Anticristo” (1888) é uma das obras mais contundentes de Friedrich Nietzsche, na qual ele apresenta uma crítica feroz ao cristianismo. Escrito no contexto de uma crescente hostilidade à religião e suas instituições, o livro é uma análise radical da moralidade cristã, que Nietzsche considera como uma força de decadência e negação da vida.

Nietzsche argumenta que o cristianismo, com sua ênfase na humildade, sofrimento e negação dos instintos, representa uma revolta contra os valores da vida e da natureza humana. Ele critica a moral cristã por promover uma visão de mundo que glorifica a fraqueza e a submissão, em vez de celebrar a força, a vitalidade e a criatividade.

O autor também examina a figura de Cristo, questionando a autenticidade de seus ensinamentos e sugerindo que o cristianismo que surgiu após sua morte distorceu sua mensagem original. Nietzsche vê a moral cristã como uma invenção de forças ressentidas que procuraram subjugar a vitalidade humana e estabelecer uma moralidade que enfraquece o espírito humano.

“O Anticristo” é uma obra provocativa e polémica, que sintetiza a crítica de Nietzsche ao cristianismo e à moralidade tradicional, defendendo uma reavaliação radical dos valores e uma afirmação vigorosa da vida.

  • Ecce Homo (1888)

“Ecce Homo” (1888) é uma das últimas obras de Friedrich Nietzsche, publicada postumamente, e serve como uma autobiografia filosófica e um manifesto de suas ideias. O título, que se traduz como “Eis o Homem”, faz referência à declaração de Pilatos ao apresentar Jesus Cristo, e Nietzsche usa-o para se auto-representar como um pensador radical que desafia os valores estabelecidos.

No livro, Nietzsche revisita e contextualiza suas obras anteriores, oferecendo uma visão pessoal sobre suas principais ideias e argumentos. Ele apresenta suas obras mais significativas, como “Assim Falou Zaratustra”, “Além do Bem e do Mal” e “A Genealogia da Moral”, explicando como essas obras se conectam com sua filosofia e sua visão de mundo. Nietzsche também reflete sobre seu próprio desenvolvimento intelectual, suas influências e suas motivações.

“Ecce Homo” é notável por seu tom confessional e autoexaltante. Nietzsche não apenas defende suas ideias, mas também se apresenta como um profeta e um visionário, desafiando o leitor a reconhecer a importância e a radicalidade de seu pensamento. O livro é uma combinação de autoavaliação e defesa filosófica, oferecendo uma visão íntima e provocativa da mente de um dos pensadores mais influentes do século XIX.

  • Nietzsche contra Wagner (1888)

“Nietzsche contra Wagner” (1888) é uma coleção de textos em que Friedrich Nietzsche expressa sua crescente distância e crítica ao compositor Richard Wagner, com quem tinha anteriormente uma profunda admiração. Esta obra reflete o rompimento final de Nietzsche com Wagner e seu movimento do entusiasmo inicial para uma análise crítica da filosofia e da arte do compositor.

O livro é dividido em dois ensaios principais:

1. “Richard Wagner em Bayreuth”: Aqui, Nietzsche revisita e critica a visão que anteriormente tinha sobre Wagner como um reformador cultural e um gênio artístico. Ele agora vê Wagner como um exemplo de decadência cultural e um artista que, segundo ele, promove a negação da vida e a moralidade cristã.

2. “Nietzsche contra Wagner”: Este ensaio aborda diretamente as razões de seu afastamento de Wagner, destacando como a filosofia de Wagner, que Nietzsche considera carregada de elementos ascéticos e cristãos, está em desacordo com suas próprias ideias de afirmação da vida e individualidade.

Nietzsche critica Wagner por sua busca de uma arte e uma cultura que, em sua visão, enfraquecem o espírito humano e promovem uma moralidade de resignação. “Nietzsche contra Wagner” é uma manifestação clara da mudança de perspectiva de Nietzsche e do desenvolvimento de sua própria filosofia, especialmente sua rejeição da influência do cristianismo na arte e na cultura.

  • Ditirambos Dionisíacos (1895)

“Ditirambos Dionisíacos” (1895) é uma coleção de poemas publicada postumamente que Friedrich Nietzsche escreveu em seus últimos anos. A obra é uma expressão poética e lírica do espírito dionisíaco, refletindo a profunda influência da filosofia de Nietzsche sobre a arte e a cultura.

Os poemas capturam a essência da filosofia dionisíaca, que Nietzsche havia explorado em obras anteriores como “O Nascimento da Tragédia”. O dionisíaco, associado ao deus Dionísio, simboliza a celebração do êxtase, do caos e da unidade com a natureza. Em contraste com o apolíneo, que representa ordem e racionalidade, o dionisíaco é uma força que desafia as convenções e abraça a vitalidade e a intensidade da vida.

Na coleção, Nietzsche expressa seu entusiasmo pelo impulso criativo e pela experiência direta da existência, celebrando o poder da música, da dança e da paixão. Os poemas são caracterizados por um estilo exuberante e uma linguagem rica, refletindo a influência das tradições líricas antigas e a inspiração que Nietzsche encontrou na mitologia e na arte.

“Ditirambos Dionisíacos” é uma obra que revela o lado mais pessoal e artístico de Nietzsche, mostrando sua capacidade de capturar e transmitir a profundidade de suas ideias filosóficas através da poesia.

Frases

  • “Todos os instintos que não têm vazão, que alguma força repressiva impede de virem à tona, retornam para dentro – é o que chamo de interiorização do homem” – Fonte: Genealogia da Moral;
  • “A vantagem da má memória é que se usufrui muitas vezes das mesmas coisas pela primeira vez.”- Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • “A chama não é tão luminosa para si como para as outras que ela ilumina: da mesma forma o sábio.”- Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • “Uma profissão é a espinha dorsal da vida.”- Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • “Águas revoltas arrastam com elas muitos seixos e detritos; espíritos fortes arrastam muitas cabeças ocas e confusas.”- Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • O indício menos equívoco de desprezo dos homens é o de não dar valor a cada um senão como meio para atingir seu próprio fim ou não.” – Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • “Muitos são obstinados no tocante ao caminho uma vez tomado, pouco no tocante aos objetivos.” – Fonte: Humano Demasiado Humano I;
  • “O nosso próprio ser diz ao Eu: “Prove dores!” E sofre e medita para não sofrer mais; e para isso deve pensar.”- Fonte: Assim Falava Zaratustra;
  • “O nosso próprio ser diz ao Eu: “Prove alegrias!” regozija-se então e pensa em continuar a rejubilar-se frequentemente; e para isso deve pensar.” – Fonte: Assim Falava Zaratustra;
  • “O Corpo é uma razão em ponto grande, uma multiplicidade com um único sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor.”- Fonte: Assim falava Zaratustra;
  • “O amor põe em evidência as qualidades elevadas e ocultas daquele que ama — o que nele é raro, excepcional: assim fazendo, engana acerca daquilo que nele é a norma.”- Fonte: Além do Bem e do Mal.

Artigos sobre filosofia Nietzscheana no Colunas Tortas

Drops

Resumo

Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo, filólogo, poeta e crítico cultural alemão, cuja obra teve um impacto profundo no pensamento ocidental moderno. Nascido em Röcken, Prússia, Nietzsche mostrou desde cedo aptidão para os estudos clássicos, e aos 24 anos tornou-se professor de Filologia Clássica na Universidade de Basileia.

Friedrich Nietzsche: Influências

A formação de Nietzsche em filologia clássica influenciou profundamente seu pensamento filosófico. Entre suas primeiras influências estão Arthur Schopenhauer, cujas ideias pessimistas sobre a vida e a vontade influenciaram Nietzsche, e Richard Wagner, com quem manteve uma amizade e admiração que mais tarde se transformou em crítica e distanciamento.

Obras Principais

  • O Nascimento da Tragédia (1872): Sua primeira obra importante, em que defende a importância do espírito dionisíaco (caos, paixão) e apolíneo (ordem, racionalidade) na cultura grega, e critica a decadência da cultura moderna.
  • Humano, Demasiado Humano (1878): Marca a ruptura de Nietzsche com o pessimismo de Schopenhauer e o idealismo de Wagner, propondo uma visão mais racional e crítica da cultura e moralidade.
  • Assim Falou Zaratustra (1883-1885): Considerada sua obra-prima, apresenta o conceito do Übermensch (super-homem) e a ideia do eterno retorno, uma visão cíclica do tempo. A obra é escrita em estilo poético e profético, inspirando diversas interpretações filosóficas e literárias.
  • Além do Bem e do Mal (1886): Nietzsche aprofunda sua crítica à moral tradicional e ao cristianismo, propondo a transvaloração de todos os valores e defendendo uma moralidade baseada na vida e na vontade de poder.
  • A Genealogia da Moral (1887): Aqui, Nietzsche analisa as origens históricas e psicológicas dos conceitos morais, desvendando como valores como o bem e o mal se desenvolveram em diferentes contextos sociais.

Principais ideias de Nietzsche:

  • Vontade de Poder: Nietzsche via a vontade de poder como a força motriz fundamental da vida, uma busca incessante por autoafirmação e superação.
  • Eterno Retorno: Uma teoria metafísica onde a vida se repete infinitamente, colocando uma ênfase existencial no modo como se vive cada momento.
  • Niilismo: A percepção de Nietzsche sobre o niilismo envolve a crise de valores ocidentais, onde as antigas crenças religiosas e morais perderam seu poder de orientar a vida.
  • Super-homem (Übermensch): Uma figura que transcende os valores tradicionais, criando novos valores e vivendo além do bem e do mal convencionais.

Últimos Anos e Legado:

Os últimos anos de Nietzsche foram marcados por um declínio mental. Em 1889, sofreu um colapso mental e passou o resto da vida sob os cuidados de sua mãe e irmã. Suas obras póstumas, como “Ecce Homo” e “O Anticristo”, consolidaram seu status como um dos críticos mais profundos da cultura ocidental.

Nietzsche influenciou profundamente diversas áreas do pensamento, incluindo filosofia, psicologia, literatura e teoria crítica. Seu impacto pode ser visto em figuras como Sigmund Freud, Martin Heidegger, Michel Foucault, e na literatura de autores como Thomas Mann e Hermann Hesse.

A obra de Nietzsche permanece relevante por seu questionamento radical das crenças tradicionais e sua exploração das possibilidades humanas, continuando a inspirar debates e interpretações até os dias de hoje.

Referências

ANDERSON, R. L. Friedrich Nietzsche. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2017. Disponível em <<https://plato.stanford.edu/entries/nietzsche/>>.

JONES, J. An Animated Introduction to Friedrich Nietzsche’s Life & Thought. Open Culture, 2019. Disponível em <<https://www.openculture.com/2019/03/an-animated-introduction-to-friedrich-nietzsches-life-thought.html>>.

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Escala, 2008.

NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo: maldição contra o cristianismo. Porto Alegre: L&PM, 2012.

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra Tradução: Paulo César Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

OLIVEIRA, A. O. A Crítica de Nietzsche à Moral Kantiana: Por Uma Moral Mínima. Cadernos Nietzsche n. 27, p.169-189. 2010.

42 Comentários

  1. Gente… é no mínimo “divino e maravilhoso” simplesmente saber a história de Nietzsche, imagina ler parte ou todo sua obra? Quem sabe descobrimos os motivos e seremos remetidos a solução dos sintomas inexplicáveis que nos acomete e são “invisíveis” principalmente aos olhos dos nossos próximos, e os que dizem capazes de solucionar e nos entender, estão longe de chegar muito longe, quanto mais perto. O que é compressível, pois não sentem e não vivem os sintomas, ou seja, teriam que esta do outro lado, pois somos “mutantes”, mudamos Aconselho que comecem lendo Genealogia da Moral, Humano Demasiado Humano I e Além do Bem e do Mal, ou mudem a ordem, pois acredito que a ordem da leitura não alterará o entendimento, salvo algumas exceções quando notei o lera obra grade obra de Milan Kundera que aconselho começar lendo “A Insustentável Leveza” do Ser, esquecendo definitivamente o filme, e se já assistiu não assistam novamente antes de ler o livro, depois estão liberados, pois entenderam o que estou escrevendo.

  2. Show! Precisava muito encontrar uma revista eletrônica assim. Tenho uma profunda paixão por Nietzsche e sua obra. Obrigado por este tão valioso projeto que farei questão de divulgar e, que com certeza, irá contribuir com milhares de leitores e estudiosos da filosofia, assim como me será de grande utilidade.

  3. Ora, podemos concluir que, se é verdade que o nazismo de Hitler usou as obras de Nietzsche para assassinar pessoas em nome de ideais, então ele não entendeu nada na obra de Nietzsche!
    Se Hitler queria criar uma raça pura, a ideia de Amor Fati – amar o mundo tal como ele é – e de negar o mundo da vida em busca, no niilismo, quebra suas pernas – as de Hitler.

  4. Nietzsche é só um lixo que lhes ensinaram na universidade e vocês falaram amém, pois sua obra não resiste a um mínimo de análise. Se a moral não existe, então tanto o torturador quanto o torturado estariam certos, mas vocês não chegam a este questionamento, pois a mente já foi domada pelos xerox e pela fama dos autores.

  5. Boa … Boa…extremamente grata pelo fato de vc compartilhar o que chamo de tesouro, tudo que engrandece meu conhecimento são tesouros. Feliz por poder ter acesso e saber que disceminas de forma tão livre, pra quem quiser ter acesso a esse universo, mais informações sobre meu filósofo favorito e incentivador de pensamentos e atitudes livres! Obrigada!

  6. Parabéns! Tudo o que li neste site, só me deu mais vontade ainda de conhecer mais a obra deste grande filósofo, que admiro há muito tempo, mesmo que conhecendo apenas superficialmente a sua obra.
    Muito obrigado.

  7. Boa tarde, gostaria que me indicasse as melhores traduções de do autor, se possível. existe uma coleção completa com toda a obra de Nietzsche?

    obrigado
    Fábio Teixeira

Deixe sua provocação! Comente aqui!