“Meu erro foi não ter sido fiel”, ou sobre a humanização do estuprador

Da série “O caso Robinho“.

Segundo Robinho:

Nós tivemos relações de homem e mulher. Consentido pela garota […] O meu erro for ter traído minha esposa.


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A cultura brasileira, com seu forte enraizamento no cristianismo, valoriza as instituições fortemente vinculadas à religião, como a igreja e a família. A adequação aos desígnios da instituição é uma adequação fundamental. Finca o sujeito na realidade da maioria dos brasileiros. Não só o fixa nela, como também o adequa nela: Robinho, ao afirmar que seu erro foi trair a esposa, se insere de maneira profunda na instituição familiar, pois não só a usa de referência para significar o mundo, como também se coloca como elemento postulante, como indivíduo que errou, ou seja, que se compromete com a instituição no próprio critério do adequado e inadequado que ela produz.

Robinho, ao dizer que seu erro foi a traição, se coloca como sujeito adequado. Se insere na instituição familiar e na instituição religiosa.

Evidentemente, ao dizer que não teve relações sexuais, pois relações sexuais só poderiam acontecer através da penetração, novamente se coloca na posição do sujeito adequado à instituição familiar tradicional, em que a relação sexual só é possível com a união de pessoas em que, necessariamente, uma tenha a condição de penetrar a outra.

A todo instante, Robinho se insere na posição de brasileirão padrão: cristão, ligado aos valores da família e humilde por reconhecer seu erro. Ao longo da entrevista, assume novamente a consciência da vítima em estar na situação de estupro e salienta que o fato do acontecimento ter sido num passado supostamente distante, não haveria como saber ao certo o que ocorreu.

O movimento da aceitação do erro pode até servir, numa interpretação do conteúdo, como maneira de aliviar o erro maior. Aqui, entendo que a aceitação do erro tem como função inserir Robinho na posição de sujeito cristão brasileiro, de sujeito humilde, vítima de uma situação que não é verdadeira. De sujeito que, em sua humildade, não mentiria sobre o estupro.

Pessoalmente, não acho que o Robinho se considere estuprador. Acredito que Robinho de fato foi constituído por essa posição de sujeito em que humildade, família e misoginia estão unidas e produzem uma mesma subjetividade.

Até agora, nesta minha série de colunas sobre o caso Robinho, já passei pelo movimento de vitimização a que Robinho se insere no discurso do estupro, ao reforço de sua humildade através da suposição de problemas financeiros e, neste momento, no reforço de sua humildade ao assumir o erro. Aos poucos, irei publicar mais textos abordando cada pedaço das falas de Robinho e de seus cúmplices neste crime.

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