Fiódor Dostoiévski e Karl Marx se encontram no mais novo curso promovido pelo Sesc Belenzinho. A oficina “Dostoiévski, o Socialismo e o Cristianismo” começa hoje (15) e terá encontros semanais, todas as terças-feiras até o dia 19 de agosto. A responsabilidade de aproximar o autor russo, muitas vezes sendo considerado como representante da ideologia burguesa individualista, com o socialismo será de Flávio Ricardo Vassoler, doutorando em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. As informações são da revista Cult.
Após ser enviado para a Sibéria por participar de um grupo progressista chamado “Círculo Petrashevski“, Dostoiévsky desenvolveu um novo estilo literário, que se aproximava de suas experiências com a exclusão. Foi no período pós-prisão que escreveu Recordações da Casa dos Mortos (semi-biográfico), O Idiota, O jogador, Crime e Castigo e Os irmãos Karamazov – é com base nestes livros que Vassoler irá discutir a relação do autor russo com o niilismo e com a dialética, “Ele [Dostoiévski] não pensa no sentido histórico como algo estático panorâmico (uso aqui um conceito positivista), ele pensa dialeticamente, nas ideias em devir. Matura a história acompanhando possíveis desdobramentos das ideias que embasam aquela época. Dostoiévski está pensando na implosão da esfera divina e levando às ultimas consequências os princípios a que os socialistas só queriam colocar luz. Ele queria mostrar sombras dessa sociedade”, conta.
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Os movimentos populares da Rússia czaristas tendiam a acreditar numa aproximação da vivência comunal russa (que vivia uma período semi-feudal), o que seria uma certa tendência favorável ao abrochar da consciência de classe, tão importante na teoria marxista. Entretanto, Dostoiévski, antes mesmo dos socialistas, já conseguia prever as mudanças morais da ascensão de uma nova estrutura social (que estaria porvir, após a revolução socialista).
O cristianismo, nesse diálogo, entra com a função de manter a referência moral. Sem Deus não há moralidade possível e o mundo seria jogado aos prazeres perversos da humanidade, afinal, “se deus não existe, tudo é permitido”, segundo o próprio romancista russo. Deus como objeto central de uma moral deveria ser conservado, pois sua ausência poderia alavancar a emergência de uma ditadura nefasta. “Essa revolução, ao lidar com um homem que quer fundar uma nova sociedade, poderia redundar em características profundas de autoritarismo”, explica o professor Vassoler.
Ao contrário daqueles que defendem uma oposição entre socialismo e cristianismo na obra de Fiódor Dostoévski, Flávio Vassoler afirma que o autor se utiliza de uma crítica dialética entre ambos. “Aproximando cristianismo e socialismo, em vez de termos polaridade irrestrita e excludente, há uma crítica fundamental ao socialismo para reaproximar aquilo que poderiam ser as bases que colocam lado a lado socialismo e cristianismo”, explica.
Oficina Dostoiévski, o Socialismo e o Cristianismo
Onde: Sesc Belenzinho – R. Padre Adelino, 1000 – São Paulo (SP)
Quando: terças-feiras, das 19h30 às 21h30 (de 15/7 a 19/8)
Quanto: gratuito
Info: (11) 2076-9700
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.