Os gêneros discursivos – Dominique Maingueneau

Os gêneros do discurso exigem aceitação de suas regras àqueles que participam, entretanto, tal aceitação não acontece num nível instrumental, não precisa ser objeto de um acordo explícito. Este acordo é firmado entre sujeitos que “interpretam” papéis, ou seja, suas práticas verbais não são aleatórias e nem dependentes de todas as determinações possíveis: os papéis são particulares. Por fim, na união entre contrato e papel, o jogo aparece, sendo que, no jogo, as regras estão em prática e aqueles que não a aceitarem, “saem do jogo”.

As 4 formas de consciência da loucura – Michel Foucault

A primeira forma da consciência delimita uma região da linguagem em que se defrontam loucura e razão num movimento de profunda crítica e reversibilidade; a segunda forma retoma velhos rituais de corte social, de purificação social e constrói uma série de normas passíveis de aplicação na realidade social; já a terceira forma não está no nível do conhecimento, mas sim do reconhecimento, da identificação, do sinal, que já traduz a não loucura do sujeito que identifica; por fim, a quarta forma destrói o drama sobre a loucura que poderia ser conjurado pela primeira consciência e, ao mesmo tempo, silencia toda forma de diálogo (justaposto ao silenciamento provocado pela forma consciência prática), pois a loucura já aparece como objeto inerte, desarmado e, de certa forma, débil.

Loucura enquanto ofuscamento – Michel Foucault

Enquanto o homem clássico se encontra sempre no trajeto da verdade que passa profundidade da noite e pela verdade da luz, o desatinado se perde pelas imagens que confundem o dia com a noite. O ofuscamento é forte o bastante para aproximar a loucura do signo da indiferença em relação à realidade.

Loucura e o sonho – Michel Foucault

Na loucura, um sonho é afirmado como real e conduz ao erro. O erro está elevado à impossibilidade do acerto, não exatamente à falta de correspondência do que se percebe com a realidade. A loucura, a partir do erro e da imersão no sonho, se faz como nada. Mas em seu estatuto de nada, a loucura paradoxalmente se manifesta na ordem da razão e, assim, é identificada em suas positividades particulares.

A grande internação – Michel Foucault

A pobreza foi o primeiro alvo formal das casas de internação, uma multiplicidade disforme foi seu habitante de fato: após o esvaziamento dos leprosários, o espaço vazio foi preenchido por uma massa confusa. Um novo gesto organiza uma nova sensibilidade à miséria e à assistência aos pobres, ao mesmo tempo, cria uma espaço que será preenchido pela confusa massa de desatinados, de infelizes percebido sob o signo da loucura durante a Idade Clássica através do nascimento de uma nova razão.

As 4 características do delírio na Idade Clássica – Michel Foucault

A estrutura de percepção do delírio o coloca como elemento que transcende o corpo e atinge a alma, que transcende a observação do corpo e atinge uma estrutura elementar da loucura mas, ao mesmo tempo, é animado pela sua existência. A totalidade do corpo e da alma estão em jogo no discurso delirante.

As quimeras da loucura – Michel Foucault

Entende-se o delírio como momento para a expressão da verdade última da loucura, enquanto linguagem delirante que, num salto irônico, tem base na própria linguagem da razão. Convive com a linguagem da razão, pois é como que o espaço delimitado e excluído por ela: a linguagem delirante trabalha com a lógica irredutível e rigorosa da razão, mas através de um fio condutor ilusório.

O indivíduo e a epistémê em Michel Foucault – DROPS #8

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8ª ed. — São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 85-86. Grifos meus e quebras de parágrafo minhas. Um sistema arbitrário de signos deve permitir a análise das coisas nos seus mais simples elementos; deve decompor até a origem; mas deve também mostrar como…

Antes da loucura, a pobreza – Michel Foucault

O internamento passa a ser a ordem perante a pobreza, já dessacralizada e assistida por instituições seculares. O miserável submisso saberá que o internamento é o melhor para sua vida, será internado de bom grado; o miserável insubmisso, justamente por sua insubmissão, merece o internamento e, mesmo o recusando, deverá ser internado.