Modernidade e colonização – Enrique Dussel

O presente artigo se inicia com o entendimento de Enrique Dussel acerca da centralidade de René Descartes e seu cogito, passo pelo antecedente que dá possibilidade material para um ego cogito, o ego conquiro. Entre ambos, há um salto que é explicado por Ramon Grosfoguel pelo ego extermino, que articula o genocídio promovido pela conquista e o epistemicídio proposto pela nova filosofia moderna. Por fim, os quatro genocídios/epistemicídios argumentados por Boaventura de Souza Santos e desenvolvidos por Grosfoguel são traçados e a crítica de Grosfoguel e Castro-Gomez à impossibilidade da coetaneidade do tempo na modernidade é apresentada.

O tríplice deslocamento da analítica do poder – Michel Foucault

O triplo deslocamento para análise das relações localizadas 1) no exterior da instituição, 2) no exterior de suas funções e 3) no exterior dos objetos que são seus alvos permite o reconhecimento do funcionamento global do poder e, assim, da constituição das instituições, de suas funções e seus objetos para além daquilo que é declarado intencionalmente pela própria instituição, para além do mundo fechado em si da análise institucional que Foucault se contrapõe.

Habitus – Pierre Bourdieu

O habitus, entendido como sistema de disposições práticas, tende a ser o conceito operatório de articulação entre o nível objetivo e o nível subjetivo, retirando a ingenuidade de uma apreensão primeira do mundo social e, ao mesmo tempo, recolocando a análise objetiva em sua responsabilidade de explicar as condições que permitem a expressão subjetiva.

O espaço social – Pierre Bourdieu

A representação do espaço social construído, se tem a base para uma análise social, propostas de projetos políticos, econômicos ou sociais a partir de um mapeamento científico da estrutura social. Trata-se de um espaço estrutura por posições relacionadas. A propriedade de cada posição depende das relações firmadas com outras posições, sendo assim, o sistema se faz como negatividade, em que a propriedade de uma posição é justamente tudo aquilo que as outras não são. A distinção, assim, assume uma importância maior na análise.

o sentido da inveja [pierre bourdieu] – Citações #5

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Para quem duvidasse de que o fato de “saber se fazer servir”, de acordo com o discurso burguês, é uma das componentes da arte de viver burguesa, basta evocar os operários ou os pequenos empregados que, tendo entrado por ocasião de um grande evento em um restaurante…

O campo social – Pierre Bourdieu

O campo se faz como espaço de lutas, espaço que, visto em sua diacronia, se faz como um campo em transformação, em disputa. Esta disputa se faz através de estratégias que não precisam ser conscientes para que sejam aplicadas. O habitus é o elemento que, ao fornecer disposições práticas, fornece também formas de interpretação do mundo e de relação com os diferentes elementos do campo, ou seja, mesmo sem intenção de fazer, a estratégia do agente social tem relação com as disputas específicas do campo.

Relações entre o poder e o Estado nos textos da Microfísica do Poder – Michel Foucault

Neste artigo, as relações entre o poder e o Estado nos textos presentes na Microfísica do Poder são expostas. O poder é prática, é exercício, portanto, está num campo de possibilidades práticas, de estratégia e dominação. O poder é aquilo que acontece, não aquilo que pode acontecer: ele está no corpo, não pura e simplesmente na consciência. Percebe-se a preocupação de Foucault em demonstrar a viabilidade de uma pesquisa que não se concentra no Estado enquanto centro do poder e, ao mesmo tempo, sua denúncia das consequências improdutivas de um foco no poder político do Estado.

O Estado e o poder [foucault] – Citações #4

“Não tenho de forma alguma a intenção de diminuir a importância e a eficácia do poder de Estado. Creio simplesmente que de tanto se insistir em seu papel, e em seu papel exclusivo, corre−se o risco de não dar conta de todos os mecanismos e efeitos de poder que não passam diretamente pelo aparelho de Estado, que muitas vezes o sustentam, o reproduzem, elevam sua eficácia ao máximo.”

O nascimento da população – Michel Foucault

A população emerge como novo personagem político da modernidade. Ela é caracterizada como resultante de diversas variáveis: climáticas, urbanas, econômicas, psicológicas, culturais, tributárias, etc. Não se trata mais de ter na população a expressão da força de um soberano: a população, na modernidade, é o fluxo de desejo que pode ocupar o espaço público. Entende-se, assim, que a nova forma de governo trabalha para confluir os desígnios do poder e a vontade geral da população captada através de uma certa liberalização com objetivo de tornar livre o movimento dos desejos de cada indivíduo.