Quase um quarto das crianças nos EUA fazem parte de famílias que vivem em condições abaixo da linha de pobreza determinada pelo país, segundo pesquisa da Annie E. Casey Foundation. O informativo chamado “Kids Count Data Book“, que analisa informações sobre o bem-estar de crianças, o apoio familiar, sua saúde e educação, conclui que “a desigualdade entre crianças continua profunda e teima em persistir”. As informações são do WSWS.
São 16,3 milhões de crianças em situação de pobreza e 45% de crianças estadounidenses que vivem em lares que tiveram uma diminuição de suas rendas em 200% da linha de pobreza federal.
A pesquisa denuncia que a recuperação econômica dos Estados Unidos, proclamada pelo governo Obama, após a crise 2008 não é real e aponta que as condições de vida das pessoas se deterioraram desde então. Segundo o informativo, a porcentagem de crianças abaixo da linha de pobreza aumentou de 16% em 2000 para 23% em 2012, situação ainda pior para os estados do sul, que aumentam essa taxa para mais de 25%. No país, quase 50 milhões de pessoas são consideradas pobres, taxa que aumentou de 12,2% em 2000 para 16,1% atuais.
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Estes dados são o resultado de uma política desumana promovida pela classe política dos EUA que libera trilhões de dólares para Wall Street e seu mercado de ações, mas corta gastos com programas sociais, serviços públicos e cria empregos de meio-expediente ou de salários irrisórios, enquanto os preços de itens básicos aumentam vertiginosamente.
Segundo Laura Speer, diretora associada para reforma política da Annie E. Casey Foundation, a recuperação econômica ainda não se iniciou, “a taxa de pobreza infantil é conectada com o fato dos pais estarem ou não empregados e quanto ganham”. “Os empregos de meio-expediente e de baixo salário criados nesta economia não são suficientes para tirar as crianças da pobreza”, acrescenta.
A empregabilidade menor de pessoas sem um diploma universitário também indica que “as chances das crianças perante toda a trajetória da vida estão completamente entrelaçadas com o status socioeconômico de seus pais”, indica a pesquisa. A taxa de crianças que vivem em comunidades em que mais de 30% das pessoas se encontra em situação de pobreza também aumentou para 13%, 4% a mais do que em 2000.
Speer também indica que, com o aumento exorbitante dos preços das casas nas últimas duas décadas, 38% das crianças dos Estado Unidos vivem em lares que destinam um terço de seus rendimentos para custos de moradia, 10% a mais do que em 1990. Em estados como a Califórnia, esta taxa é ainda maior. “Em alguns casos, famílias vivem juntas e dormem em sofás para conseguir pagar as taxas residenciais de locais caros, como Nova York”, relata Speer.
A pesquisa também indica, reproduzindo o Informativo de Alimentação Americana, que uma a cada cinco crianças não se alimenta regularmente. O número de lares com “alimentação não assegurada” aumentou de 11,1% em 2007 para 16% em 2012. Isso significa que 16 milhões de crianças, ou 21,6%, não conseguem comer com regularidade. Esta taxa de alimentação não assegurada é quase o dobro da taxa da União Europeia.
Além de terem que escolher entre poder pagar o aluguel ou as contas de luz, água e alimentação, os pais também se encontram em uma situação delicada em relação a educação de seus filhos. Nos Estados Unidos, a educação é financiada por impostos sobre propriedade, o que leva a locais de pobreza elevada terem uma educação de baixa qualidade, enquanto bairros ricos conseguem manter boas escolas, por isso “crianças que vivem em bairros de baixa-renda tem menor acesso à educação”, diz Speer.
As mães solteiras se encontram em situação ainda pior. Segundo o informativo da Annie E. Casey Foundation a taxa de mulheres desempregadas com filhos de até 6 anos aumentou de 60% em 2000 para 69% em 2010. O corte de programas sociais após o recesso, assim como de programas de saúde, como o Medicare e o Medicaid, também são indicado pela pesquisa como culpados pelo aumento da pobreza e da desigualdade.
“Programas como o Head Star, LIHEAP [Low Income Home Energy Assistance Program] e diversos outros promovidos pelo governo federal são de fato o último suspiro de diversas famílias americanas”, conta Speer. O corte assinado pela administração de Obama no início de 2013 ainda irá promover uma redução de 5% aos programas sociais anualmente durante uma década.
Após o corte de 2013, o governo de Obama e o Congresso americano já retiraram investimentos em food stamps (cupons de alimentação dados pelo programa de assistência nutricional) em outros dois momentos, além porem um fim na ajuda para mais de 3 milhões de desempregados e suas famílias. A previsão é de que os números sobre a pobreza infantil aumente ainda mais nos próximos anos.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.