De que é feita a sociologia brasileira?
As raízes da sociologia propriamente do Brasil estão espalhadas e misturadas, mas nos esforçamos para reconstruir os pilares desta ciência social com documentários, palestras e entrevistas.
Use o índice e explore!
- A sociologia
- Gilberto Freyre
- Florestan Fernandes
- Sergio Buarque de Holanda
- Darcy Ribeiro
- Sociólogos atuais
A sociologia
De modo geral, a sociologia começou com Comte e seu curso de ciência positiva. Lá ele diz que a sociologia deve ser entendida como uma física social, uma maneira de entender a sociedade e, portanto, prever seus movimentos.
Durkheim que transformou a sociologia em uma ciência, a colocou sob as exigências objetivas da época e lhe deu um objeto em específico: o fato social. Com ele, Weber e Durkheim aparecem como marcos fundadores desta disciplina. No Brasil, no entanto, a história foi diferente.
Foram historiadores e sociólogos de formação francesa (Durkheim) e alemã (Weber e Marx) que tiveram a responsabilidade de fundar uma sociologia brasileira. Uma ciência social com a cara da realidade da nação.
Veja abaixo seminários, entrevistas e documentários sobre os grandes autores brasileiros.
Gilberto Freyre
Gilberto Freyre nasceu em 1900, Recife (PE). Foi filho de um catedrático da Faculdade de Direito do Recife[1] e talvez esta tenha sido sua influência maior para começar os estudos em Ciências Sociais e Artes nos Estados Unidos[2].
Apesar da insistência para se naturalizar estadunidense, Freyre manteve sua vontade de escrever em língua portuguesa e contar a história do Brasil e de Olinda (PE).
Foi com “Casa Grande e Senzala” que o autor se tornou imortal: recorreu às fontes até então não utilizadas, como relatos orais, manuscritos de documentos públicos e privados e anúncios de jornais, além da antropologia e sociologia brasileiras para interpretar os fatos descritos. Para Olinda, publicou, em 1939, “Olinda, 2º guia prático, histórico e sentimental da cidade”.
Selecionamos seminários e o documentário feito em homenagem a sua vida, veja abaixo.
1) Gilberto Freyre – O que é o Brasil?
Conferência de 1985 do 2º Congresso Brasileiro de Psicanálise d’A Causa Freudiana do Brasil, realizado no Rio de Janeiro.
“O mestiço Antonio Vieira, […] viajando pelo Brasil, se revelou um peão psicanalítico a que me referi antes, ele fez a sua espionagem, ele acumulou conhecimentos de intimidades que não estavam reveladas, por exemplo, ele descobriu que havia uma tendência no Brasil para valorizar o mestiço, para acabar com aquela mística, que o branco era o superior e quem não fosse branco era o inferior, ele mostrou pelo seu próprio exemplo de mestiço que era superior a maioria dos brancos com quem ele tinha se encontrado em cargos notáveis […]”
2) Gilberto Freyre e o tema da miscigenação – Elide Rugai Bastos
Elide Rugai Bastos é professora do departamento de sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP (IFCH) e diretora do CEB, o Centro de Estudos Brasileiros.
No vídeo acima, a socióloga analisa o pensamento de Gilberto Freyre e sua influência na vida social brasileira, desde a década de 30, quando seus escritos emergiram como o nascimento da intelectualidade acadêmica brasileira nas humanidades e, principalmente, na constituição da sociologia brasileira – sendo assim, de importância para a própria interpretação do país.
A acadêmica é secretária adjunta da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e autora, entre outros, dos livros: As ligas camponesas (1994) e Gilberto Freyre e o pensamento hispânico: entre Dom Quixote e Alonso el Bueno (2003).
3) Gilberto Freyre – O Cabral moderno
Série televisiva que aborda a obra máxima de Freyre, Casa Grande e Senzala.
Foi somente com Freyre que a história brasileira passou a ser contada em suas minucias cotidianas, deixando o método positivista e adentrando em uma linguagem literária, mas precisa.
Florestan Fernandes
Florestan Fernandes foi um dos únicos brasileiros a criar sua própria escola de sociologia, a escola paulista, com sede na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Marxista de formação, foi aposentado compulsóriamente pela ditadura militar em 1969, exilou-se, passou a ser professor visitante na Universidade de Columbia, Yale e professor titular na Universidade de Toronto. Quando voltou a lecionar no Brasil, em 1978, escolheu a Pontifícia Universidade Católica como seu novo lar[3].
Teve participação ativa na política brasileira como deputado constituinte e foi reeleito para Câmara em 1990, levando as visões da sociologia brasileira para a esfera institucional.
Morreu em 1995, devido a complicações em sua diálise. Florestan tinha problemas no fígado e realizou um transplante mal sucedido.
1) Vox Populi – Florestan Fernandes
Programa de entrevistas da TV Cultura em que Florestan explica sua vida, suas memórias e sua carreira.
https://www.youtube.com/watch?v=aybBJJ24Pb0
2) Roda-vida
Programa de entrevistas também da TV Cultura mediado por Heródoto Barbeiro, em que Florestan Fernandes fala principalmente sobre a situação política do Brasil na época (a gravação é de 1994).
https://www.youtube.com/watch?v=6pjiw0jrZbw
3) Florestan Fernandes: capitalismo dependente e classes sociais no Brasil
Seminário de Mirian Limoeiro Cardoso, professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminente, autora de Florestan Fernandes e a sociologia no Brasil: algumas questões e Razão e utopia: atualidade de Florestan Fernandes.
4) Café Filosófico: Florestan Fernandes e a Escola Paulista de Sociologia
Maria Arminda faz um panorama da constituição da moderna sociedade brasileira a partir da análise do livro de Florestan Fernandes, A Revolução Burguesa no Brasil. Para ela, Florestan Fernandes criou uma reflexão que contemplava todos os campos, o campo da pesquisa, da discussão teórica e metodológica. Tudo isso, fez com que ele se tornasse o sociólogo central para a compreensão da chamada sociologia paulista.
Maria Arminda do Nascimento Arruda: professora do departamento de ciências políticas da FFLCH-USP. Autora dos livros: Florestan Fernandes – mestre da sociologia moderna; Paralelo 15; Mitologia da Mineiridade. O Imaginário mineiro na vida política e cultural do Brasil; A embalagem do sistema. A Publicidade no capitalismo brasileiro, entre outros.
5) Seminário “E a revolução burguesa no Brasil? A quantas anda?”
Primeiro vídeo do seminário que marca o aprofundamento no estudo da obra A Revolução Burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes. Há diversos outros vídeos do mesmo seminário, você pode explorá-lo nos vídeos relacionados, na página do youtube.
Sergio Buarque de Holanda
Apesar de ser historiador, Sergio Buarque de Holanda deu impulso à interpretação sociológica brasileira com seu livro Raízes do Brasil.
O livro foi publicado em 1930, período pós-República Velha e início da ditadura de Vargas, e reflete muito da passagem do autor pela Alemanha, onde trabalhou como jornalista. Lá, teve contato com as obras de Weber, um dos fundadores da sociologia, e se esforçou para trazer sua maneira particular de interpretação social para a realidade brasileira[4].
1)Raízes do Brasil: Sergio Buarque de Holanda
Documentário sobre o livro do historiador, com entrevistas e narrações que seguem a linha interpretativa do livro.
2)Atualidade de Sergio Buarque de Holanda: um homem, duas cidades
Seminário de 2011, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros, IEB/USP. Começa com a participação do grande Antônio Cândido, professor aposentado da USP, falando sobre a formação de historiador em Sergio Buarque, mas conta com vários intelectuais versando sobre diversos outros temas.
Darcy Ribeiro
Embora não seja sociólogo, seus estudos sobre o povo brasileiro não podem ser ignorados.
Darcy Ribeiro é definido como educador e antropólogo, tendo sido ministro da Educação com 29 anos, em 1963, no mandato do então presidente João Goulart. Desde então, nunca mais se retirou da vida pública. Foi vice-governador do Rio de Janeiro, em 1982, logo após voltar do exílio, seguiu como Senador e secretário da cultura.
Os Cieps, Centros Integrados de Educação Pública, a Escola Normal Superior (para educação de professores de 1º grau ), e assenta as bases do que viria a ser o Programa Especial de Educação.
Em sua vida de antropólogo, foi criador do Museu do Índio, formulou o projeto do Parque Indígena do Xingu e estudou com profundidade as populações indígenas do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia.
Morreu em 1997, com 74 anos[5].
O povo brasileiro – Documentário
Primeiramente produzida como livro, O Povo Brasileiro foi posteriormente feita como documentário.
Darcy Ribeiro discute a formação do povo brasileiro, a miscigenação, o sincretismo cultural e conta com a ajuda de diversos personagens da cultural brasileira, como Luiz Melodia, Antônio Cândido e Chico Buarque para traduzir à linguagem televisiva uma das maiores obras antropológicas brasileiras.
Utopia – Darcy Ribeiro, Rubem Alves e Mario Cortella
Programa Diálogos Impertinentes, apresentado por Cortella, discute o tema Utopia com a presença de Rubem Alves e Darcy Ribeiro.
Sociólogos contemporâneos
O Brasil atual também é recheado de bons sociólogos. Iremos colocar alguns ícones, mas esperamos a participação dos nossos leitores para aumentar nossa lista.
Ruy Braga: A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista
Como decifrar a relação do precariado, isto é, do proletariado precarizado, com a hegemonia lulista? A análise de Ruy Braga a respeito do lulismo e de sua evolução, desde as grandes greves iniciadas em 1978 até o período atual, procura dar conta tanto da passagem do fordismo periférico ao pós-fordismo financeirizado como da subjetividade do precariado brasileiro: a angústia dos subalternos, a inquietação operária e a pulsão plebeia dos explorados.
A hipótese de que o lulismo se caracteriza pela superação dialética do populismo – no sentido da Aufhebung hegeliana: nega, conserva e eleva a um patamar superior – faz deste ambicioso ensaio de sociologia pública uma conquista intelectual vibrante que vem provocando animados debates a respeito do papel, presente e futuro, da classe trabalhadora no país.
Ruy Braga, professor da USP e exemplar da atual sociologia brasileira, apresenta os principais pontos de seu livro “A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista”, em resposta às intervenções iniciais de André Singer e Ricardo Musse. O debate de lançamento contou ainda com a presença especial de Francisco de Oliveira. O evento foi realizado no dia 29/11/12 pela Boitempo, pelo CENEDIC e pela FFLCH-USP.
Chico de Oliveira: Ornitorrinco – Será isso um objeto de desejo?
Nesta palestra registrada na CPFL Cultura, para a série Café Filosófico, Francisco de Oliveira, professor aposentado de sociologia da Universidade de São Paulo, retoma sua análise do capitalismo no Brasil, o qual ele descreve como um ornitorrinco.
“altamente urbanizado, pouca força de trabalho e população no campo, dunque nenhum resíduo pré-capitalista; ao contrário, um forte agrobusiness. Um setor industrial da segunda Revolução Industrial completo, avançando, tatibitate, pela terceira revolução, a molecular-digital ou informática. (…) Mas esta é a descrição de um animal cuja `evolução` seguiu todos os passos da família! Como primata ele já é quase Homo sapiens! Parece dispor de `consciência`, pois se democratizou há já quase três décadas. Falta-lhe, ainda, produzir conhecimento, ciência e técnica: basicamente segue copiando, mas a decifração do genoma da Xylella fastidiosa mostra que não está muito longe de avanços fundamentais no campo da biogenética; espera-se apenas que não resolva se autoclonar, perpetuando o ornitorrinco”
Bernand Sorj – Internet e Vida Cotidiana
Sorj é uruguaio naturalizado brasileiro e construiu sua pesquisa sobre os meios de comunicação e a vida na dita pós-modernidade. Neste Café Filosófico, Bernand Sorj explica como a internet modificou completamente o modus operandi de nossa vida cotidiana, nossa maneira de consumir e nossa privacidade.
Bernardo Sorj é diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor visitante em várias universidades europeias e dos Estados Unidos. Autor de 27 livros publicados em várias línguas, sobre o impacto das novas tecnologias, teoria social, América Latina e democracia.
Roberto DaMatta – O que faz o brasil, Brasil?
Damatta persegue o perfil do Brasil, sua brasilidade específica,
em uma pesquisa da identidade nacional, DaMatta revela o Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras (quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes.[6]
O antropólogo pretende observar não o Brasil de uma região específica, mas sim o Brasil do povo brasileiro, o Brasil popular.
Na certeza de que as visões do Brasil a partir de suas coisas oficiais, sagradas, sérias e legais são as mais correntes e familiares, quero aqui revela-lo por meio de outros ângulos e de outras questões. Não se trata mais da visão exclusivamente oficial e bem-comportada dos manuais de história social que se vendem em todas as livrarias, e os professores discutem nas escolas. Mas de uma leitura do Brasil que deseja ser maiúsculo por inteiro: o BRASIL do povo e das suas coisas. Da comida, da mulher, da religião que não precisa de teologia complicada nem de padres estudados. Das leis da amizade e do parentesco, que atuam pelas lágrimas, pelas emoções do dar e do receber, e dentro das sombras acolhedoras das casas e quartos onde vivemos o nosso quotidiano. Dos jogos espertos e vivos da malandragem e do carnaval, onde podemos vadiar sem sermos criminosos e, assim fazendo, experimentamos a sublime marginalidade que tem hora para começar e terminar.[7]
Sua investida, desta forma, não está no hábitos das elites, não são práticas importadas de maneira crua. Abaixo, o livro é resenhado no Canal Escola de Filosofia.
Referências
[1] ↑ Releituras Gilberto Freyre. Releituras, acessado em 03/01/2016.
[2] ↑ Gilberto Freyre: Biografias. Portal UOL, acessado em 03/01/2016.
[3] ↑ Florestan Fernandes. Educar Para Crescer, acessado em 25/01/2016.
[4] ↑ O jeitinho do homem cordial. História Viva, acessado em 25/01/2016.
[5] ↑ Biografia. Fundação Darcy Ribeiro, acessado em 28/01/2016.
[6] ↑ CARDOSO, Alianna Caroline Sousa. O que faz do brasil, Brasil? Essa e outras verdades do jeitinho brasileiro. Revista Liberdades, acessado em 06/07/2016.
[7] ↑ DAMATTA, Roberto. O que faz do brasil, Brasil? 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Rocco, p.9.
Instagram: @viniciussiqueiract
Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.
Muito bom. Agradeço a oportunidade de receber o link. Sucesso sempre!
Parabéns pelo material!
Parabéns! Sinto a ausência do sociólogo Fernando H. Cardoso. Afinal teve sua participação na formação do pensamento social brasileiro.
Perfeita observação. Lúcido, coerente, erudito, clarividente.
Adorei o post mas gostaria de acrescentar outros filósofos brasileiros como: Leandro Karnal com suas palestras, O ÓDIO NO BRASIL e A UTOPIA DA MELHOR IDADE, Viviane Mosé com OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA EM DIREÇÃO A UMA ESCOLA VIVA, A CRISE DA ARTE e O QUE A ESCOLA DEVERIA APRENDER ANTES DE ENSINAR, Clóvis de Barros Filho com A DINÂMICA DOS AFETOS, A APROVAÇÃO PELO ANISMO e POR QUE LER MARX?, Yves de la Taille com EDUCAÇÃO MORAL E FORMAÇÃO ÉTICA e DO TÉDIO AO RESPEITO POR SI – EDUCAÇÃO MORAL E FORMAÇÃO ÉTICA e Rosely Sayão com A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE FILHOS, FILHOS MELHOR NÃO TÊ-LOS e COMO EDUCAR FILHOS. Todos esses vídeos estão disponíveis no YOUTUBE e são ótimo exemplo de formadores de opinião.
Sim, mas estamos atrás de sociólogos.
De qualquer forma, grande abraço e obrigado pelo comentário!
A iniciativa é ótima! Sugiro a inclusão do Octávio Ianni, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e o grande Clóvis Moura.
Podíamos incluir o nome de Josué de Castro nessa relação. Josué teve uma enorme participação e contribuição na Sociologia brasileira.
Abraços!
Caio Prado Jr, embora seja um historiador, é leitura obrigatória na sociologia brasileira, principalmente a obra Formação do Brasil Contemporânea..
https://www.youtube.com/watch?v=lk12MECGKbI
Muito bom! Obrigado por compartilhar!!!
Que Maravilha, muito bom!
😉
Faltou Roberto Damatta com O que faz o Brasil, Brasil?
Obrigada!Link de valor inestimável!D+++
Valeu Colunas tortas! Belo conteúdo compartilhado!!! Obrigado!
Obrigado!
Parabéns Vinicius.