Índice
- Biografia;
- Principais ideias;
- Livros;
- Pesquisa: Foucault é preferido por 67,5% dos estudantes;
- Artigos sobre o autor;
- Resumo;
- Referências.
Michel Foucault é um dos maiores nomes da filosofia contemporânea, foi responsável por novos caminhos na análise do poder e da história e tem relevância acadêmica fora de série.
Abaixo, você verá uma introdução sobre sua vida, seu pensamento, uma lista de suas obras e um resumo esquemático.
Biografia de Michel Foucault
Michel Foucault foi um intelectual que exerceu uma ação e influência consideráveis em vários ramos do saber: na filosofia, na psiquiatria, na psicologia, na história, na sociologia, na antropologia, nas artes e na política. Teve uma trajetória acadêmica brilhante e uma atuação militante política expressiva. Foi uma das cabeças mais lúcidas que nosso século passado produziu.
Oswaldo Giacoia Junior (2017)
Para iniciar uma biografia de Michel Foucault é necessário retomar seu nascimento e sua criação. O filósofo nasceu em Poitiers, no oeste da França, em 1926.
Sua família era composta por inúmeros médicos: Paul-André Foucault, seu pai, foi um cirurgião famoso e filho de um conhecido médico da região cujo nome Foucault herdou; sua mãe precisou abandonar os desejos de se tornar médica, já que tal carreira não era aberta às mulheres no início do século XX, mas era filha de um médico cirurgião e seu filho, irmão mais novo de Foucault, entrou na carreira médica (KELLY, 2010).
A medicina não foi a escolha de Foucault para sua carreira profissional, mas os discursos médicos foram parte dos trabalhos do filósofo ao longo de sua vida.
Logo cedo, ainda no ensino básico, Foucault já demonstrava interesse por filosofia, o que culminou em tensões com seu pai, rigoroso em querer vê-lo seguir a carreira médica, como a tradição da família mandara.
Em 1945, se mudou para Paris e realizou um ano de estudos preparatórios para o exame de entrada à École Normale Supérieure d’Ulm, instituição de ensino com mais prestígio na área das humanidades até hoje na França.
Neste período, teve aulas com Jean Hyppolite, que lhe apresentou uma interpretação particular de Friedrich Hegel e, no ano seguinte, entrou para a École Normale, onde teve aulas com Maurice Merleau-Ponty e Louis Althusser, seu mentor (KELLY, 2010).
Sua passagem pela École foi depressiva, inclusive com uma tentativa de suicídio (KELLY, 2010). Se transferiu para a Sorbonne e conseguiu um diploma em psicopatologia pelo Institut de Psychologie, em 1952 (MARKULLA, 2006).
Entre a segunda metade da década de 50 e a durante a década de 60, Foucault foi como enviado cultural da França para diversas universidades da Europa e proximidades, passando pela Suécia, Tunísia e Alemanha.
Foucault ainda foi orientando de Georges Canguilhem, em sua tese História da Loucura na Idade Clássica, sofreu influência do proto-estruturalismo de Georges Dumézil e da linguística estruturalista de Ferdinand de Saussure. Através de Althusser, sofreu influência do marxismo e também da psicanálise (GUTTING; OKSALA, 2019).
Todo esse conjunto de influências foi fundamental em seu pensamento, mas suas oposições filosóficas também foram relevantes à trajetória de Foucault. É notável a distinção entre ele e outro ícone da filosofia francesa: Jean-Paul Sartre.
Sartre não teve influência pessoal e direta sobre Michel Foucault por não trabalhar no interior do sistema universitário, mas era o principal pensador francês da geração anterior.
O trabalho de Sartre tinha similaridades com o de Foucault, pois ambos tinham uma profunda antipatia pela cultura burguesa e pela organização social da França que favorecia as famílias antigas e as classes dominantes burguesas, ao mesmo tempo, ambos também simpatizavam com grupos marginalizados, como os loucos, homossexuais e prisioneiros.
Ambos também tinham forte interesse em literatura e psicologia, além da filosofia, e ambos, após um início de relativa falta de interesse político, tornaram-se ativistas comprometidos. No entanto, no fim, Foucault parecia insistir em se definir em contradição a Sartre.
Em seus princípios filosóficos, Foucault rejeitou a centralização do sujeito individual preconizada por Sartre como ponto de partida de todas as suas análises (o que Foucault zombava como “narcisismo transcendental”). Foucault faz parte de uma tradição em nascimento de descentralização do sujeito na análise com influência do estruturalismo.
Foucault também rejeitou o papel que Sartre colocava a si próprio como “intelectual universal”, que apontava à sociedade princípios morais universais, como a inviolabilidade da liberdade individual.
Durante muito tempo o intelectual dito “de esquerda” tomou a palavra e viu reconhecido o seu direito de falar enquanto dono de verdade e de justiça. As pessoas o ouviam, ou ele pretendia se fazer ouvir como representante do universal. Ser intelectual era um pouco ser a consciência de todos. Creio que aí se acha uma idéia transposta do marxismo e de um marxismo débil: assim como o proletariado, pela necessidade de sua posição histórica, é portador do universal (mas portador imediato, não refletido, pouco consciente de si), o intelectual, pela sua escolha moral, teórica e política, quer ser portador desta universalidade, mas em sua forma consciente e elaborada (FOUCAULT, 1979).
O estado das lutas na segunda metade do século XX, principalmente após Maio de 68, apontava para uma necessidade de intelectuais específicos, engajados numa luta que acontece nas ruas e que não precisa de uma vanguarda para apontar caminhos.
Principais ideias
O que o estimula, o que o move é pensar diferentemente, é pensar de outro modo […] Só alguém com uma grande liberdade de pensamento pode trazer temas novos na contramão de seu tempo.
Margareth Rago (2018)
Foucault foi influenciado pela literatura francesa avant-garde, especialmente pelos escritos de Georges Bataille e Maurice Blanchot, autores que lhe mostraram um uso da fenomenologia existencialista sem assumir pressupostos filosóficos duvidosos sobre a subjetividade (GUTTING; OKSALA, 2019).
Foi influenciado pela abordagem de Canguilhem à história da ciência, o que lhe proporcionou uma forte percepção das descontinuidades na história científica, juntamente com uma compreensão “racionalista” do papel histórico dos conceitos que os tornava independentes da consciência transcendental dos fenomenologistas.
Foucault encontrou essa compreensão reforçada na linguística estruturalista e na psicanálise desenvolvidas, respectivamente, por Ferdinand de Saussure e Jacques Lacan, bem como no já citado trabalho de Georges Dumézil. Esses pontos de vista anti-subjetivos fornecem o contexto para a marginalização do sujeito por Foucault em suas histórias arqueológicas, como O Nascimento da Clínica (sobre as origens da medicina moderna) e As Palavras e as Coisas (sobre as origens das ciências humanas modernas).
Ao mesmo tempo, foi muito influenciado por Marx e, em 1968, quando fundou o departamento de filosofia da Universidade Experimental de Vicennes, em Paris, o compôs com integrantes predominantemente marxistas, que se tornaram grandes filósofos de sua geração: como Alain Badiou, Jacques Rancière e Étienne Balibar (GUTTING; OKSALA, 2019).
As fases do pensamento de Foucault
As suas influências culminaram em estudos que, na classificação do pensamento de Michel Foucault, é costumeiro chamar de fase arqueológica, fase genealógica e na ética.
- A fase arqueológica é reconhecida por ter foco especial na análise do discurso (próxima daquela feita por Michel Pêcheux), a análise do dito. Aqui, Foucault já experimenta o uso de ferramentas conceituais de maneira inovadora, descrevendo o discurso da loucura na História da loucura na idade clássica, O Nascimento da clínica, As palavras e as coisas e terminando no livro que mais se aproxima de um discurso do método, A Arqueologia do saber;
- A fase genealógica contém os trabalhos de Foucault sobre o poder, Vigiar e Punir e a História da Sexualidade como livros mais reconhecidos do período;
- Já a ética seria parte daquilo que é proposto na História da Sexualidade, como uma ética de si baseada no ideal greco de cuidado de si como parte do cuidado à própria pólis. Também concentram-se os cursos lecionados no Collége de France no fim de sua vida.
No entanto, Norman Madarasz (2016) é um exemplo de pesquisador que rejeita esta separação, entendendo que a arqueologia está presente em toda a obra de Foucault e, apesar do distanciamento aparente que o filósofo francês tinha com o estruturalismo, ela seria uma forma de análise estrutural que se mantém em seu trabalho como suporte e sempre em conjunto com outras formas de análise, subordinada à genealogia em um momento e depois subordinado à genealogia com extensão à análise do governo de si e dos outros.
Enquanto a genealogia funcionaria como uma maneira de inscrever os saberes assujeitados nas hierarquias das ciências e, assim, dar força para que se tornem livres, a arqueologia tem como papel principal servir à análise dos saberes.
História da loucura e da medicina clínica
Herdeiro declarado de Nietzsche, o pensamento de Foucault envolve uma profunda crítica às verdades pretensamente universais legitimadas pelos discursos científicos.
As obras de Michel Foucault são heterogêneas, mas tudo começa com Doença Mental e Psicologia (1954), que foi um trabalho encomendado por Althusser, já com História da Loucura na idade clássica, de 1961, que ele atingiu o patamar de intelectual francês de fato. Apesar de rejeitada pelos círculos marxistas da academia, preocupados em legitimar o marxismo como uma ciência, seu estudo sobre os internamentos foi inovador pelo método arqueológico e pela proposta “anti-loucura”.
O estudo de Foucault procura descrever formas de percepção da loucura. Ou seja, procurar identificar o que era de fato a prática social da loucura desde os fins da Idade Média, passando pelo Renascimento, Idade Clássica até o início da modernidade.
O louco, ele descobre, era muito mais do que uma pessoa com distúrbios mentais, mas era um excluído por excelência: eram internados mendigos, pessoas pródigas, mulheres que não queriam se casar e ter filhos e etc e etc. O internamento do louco era a exclusão da pessoa fora da moral.
Além disso, ele argumentou que a alegada neutralidade científica dos tratamentos médicos modernos da insanidade na verdade encobre tentativas de contornar desafios à moralidade burguesa convencional. Em resumo, Foucault argumentou que o que era apresentado como uma descoberta científica objetiva e incontestável (que a loucura é uma doença mental) era, na verdade, o produto de compromissos sociais e éticos eminentemente questionáveis.
A próxima obra histórica de Foucault, O Nascimento da Clínica (1963), também apresenta uma crítica à medicina clínica moderna. Contudo, a crítica socio-ética é atenuada (exceto por algumas passagens veementes), mas há um foco nas modalidades enunciativas e nas rupturas do discurso médico ao longo do século XVIII.
Para Foucault, ao contrário do que pode parecer, a medicina era, de início, coletiva. Era uma medicina dos espaços e dos fluxos que foi, aos poucos, se individualizando e encontrando no próprio sujeito, no próprio corpo, o seu alvo: a doença.
As palavras e as coisas
O livro que tornou Foucault famoso, Les Mots et les Choses (As Palavras e As Coisas), é de muitas maneiras uma interpolação peculiar no desenvolvimento de seu pensamento.
Seu subtítulo, “Uma Arqueologia das Ciências Humanas”, sugere uma expansão das histórias críticas anteriores da psiquiatria e da medicina clínica para outras disciplinas modernas, como economia, biologia e filologia. E, de fato, há um extenso relato das várias “disciplinas empíricas” da Renascença e da Era Clássica que precedem essas ciências humanas modernas.
No entanto, há pouco ou nada da crítica social implícita encontrada em História da Loucura ou mesmo em O Nascimento da Clínica. Em vez disso, Foucault oferece uma análise de como o conhecimento era organizado — e como essa organização mudou — no pensamento ocidental, desde a Renascença até o presente.
No cerne de sua abordagem está a noção de representação. Aqui, focamos em seu tratamento da representação no pensamento filosófico, onde encontramos o engajamento mais direto de Foucault com questões filosóficas tradicionais.
Foucault argumenta que, durante a Idade Clássica, de Descartes a Kant, a representação estava integrada ao pensamento: pensar era usar ideias para representar objetos do pensamento.
No entanto, a representação não se baseava na semelhança; as propriedades das ideias não constituíam a representação dos objetos. Por exemplo, um mapa representa estradas não porque as estradas possuam as propriedades do mapa, mas porque a estrutura abstrata do mapa reflete a estrutura abstrata das estradas.
No pensamento Clássico, o conhecimento é alcançado através de ideias que representam objetos.
A adequação de uma ideia como representação é julgada não pela comparação direta com o objeto, mas por suas próprias características autorreferenciais e pelo acesso introspectivo direto que temos às estruturas abstratas das nossas ideias. Esse aspecto autorreferencial é central para determinar se uma ideia representa um objeto de forma adequada.
Foucault contrasta isso com o pensamento da Renascença, que enfatizava a semelhança entre as coisas, em vez da reflexão estrutural abstrata encontrada na representação Clássica.
No pensamento Clássico, as ideias são vistas como não físicas e não históricas, o que significa que não participam das redes causais.
A linguagem, portanto, é vista apenas como uma ferramenta para representar ideias e não desempenha um papel fundamental no conhecimento. A linguagem é considerada uma manifestação física das ideias, sem significado intrínseco, além de sua relação com elas.
Foucault argumenta que a grande mudança na filosofia moderna ocorre com Kant, que questiona se e como as ideias representam seus objetos. Com Kant, as ideias deixam de ser vistas como veículos inquestionáveis do conhecimento e passa-se a considerar que o conhecimento pode ter origens além da representação.
Embora a representação ainda possa ser essencial para o conhecimento, o novo pensamento é que a representação e as ideias podem ter origens fora da própria representação.
Essa ideia levou a novas possibilidades modernas. Kant acreditava que as representações (pensamentos ou ideias) eram produto da mente humana, mas pertenciam a um domínio epistemológico especial, a subjetividade transcendental.
Kant manteve a visão clássica de que o conhecimento não pode ser entendido como realidade física ou histórica, mas situou a base do conhecimento na subjetividade transcendental, que é condição para o pensamento e julgamento. Posteriormente, idealistas pós-kantianos como Hegel desenvolveram essas noções metafísicas.
Outra visão moderna considerava as ideias como realidades históricas, ligada à linguagem como veículo principal do conhecimento. No entanto, tornar o conhecimento totalmente histórico o desproveria de caráter normativo, destruindo sua natureza como conhecimento.
Assim, mesmo com o pensamento moderno enfatizando a historicidade do conhecimento, era necessário manter algum equivalente funcional ao domínio transcendental de Kant para garantir a validade normativa do conhecimento.
Foucault explora duas características centrais do pensamento pós-Kantiano: o retorno da linguagem e o “nascimento do homem”. Primeiramente, um tipo de retorno da linguagem: na visão moderna, a linguagem adquire um papel essencial e independente que não tinha na visão clássica. Esse retorno não é uniforme; a linguagem pode ser entendida de várias formas:
- Formalização: técnicas para eliminar ambiguidades nas línguas naturais.
- Interpretação hermenêutica: métodos para descobrir verdades fundamentais nas línguas.
- Literatura pura: a linguagem pode ser vista como uma realidade autônoma, sem necessidade de se referir ao mundo ou a uma Verdade Divina subjacente.
Por fim, Foucault argumenta que o conceito de “homem” é epistemológico e não existia na Idade Clássica. Embora os humanos fossem vistos como o locus do conhecimento, a consciência epistemológica do “homem” como sujeito transcendental e objeto empírico é uma inovação moderna. O cogito cartesiano, por exemplo, é uma certeza inquestionável na episteme clássica, mas não na moderna, que questiona a natureza do sujeito e a relação entre representação e a realidade do “eu” como um constituído e não apenas um representador.
Essas mudanças refletem uma transformação na compreensão do papel da linguagem e do conceito de humanidade no conhecimento moderno.
No cerne do conceito de “homem” está sua finitude, ou seja, a limitação imposta pelos fatores históricos (orgânicos, econômicos, linguísticos) que operam sobre ele. Essa finitude é um problema filosófico porque, sendo um ser empírico historicamente limitado, o homem também deve ser a fonte das representações pelas quais conhecemos o mundo empírico, incluindo a nós mesmos.
Em outras palavras, a consciência deve ser tanto um objeto empírico de representação quanto a fonte transcendental dessas representações. Foucault acredita que essa relação é impossível de se realizar.
O que ele chama de “análise da finitude” examina os principais esforços da filosofia moderna para entender o homem como “empíro-transcendental” e conclui que a impossibilidade dessa realização histórica implica o colapso da episteme moderna.
Foucault argumenta que alguns filósofos, como Hegel e Marx de um lado, e Nietzsche e Heidegger de outro, tentaram resolver o problema do status duplo do homem tratando-o como uma realidade histórica.
No entanto, essa abordagem enfrenta a dificuldade de que o homem deve ser tanto um produto dos processos históricos quanto a origem da história. Se tratarmos o homem como produto da história, sua realidade é reduzida a algo externo a ele, o que Foucault chama de “retirada” da origem do homem.
Por outro lado, se insistirmos no “retorno” ao homem como sua própria origem, não conseguimos entender seu lugar no mundo empírico. Esse paradoxo pode explicar a obsessão moderna com as origens, mas nunca há uma saída para a contradição entre o homem como originador e o homem como originado.
No entanto, Foucault acredita que a busca moderna pela questão das origens nos proporcionou um sentido mais profundo da significação ontológica do tempo, particularmente no pensamento de Nietzsche e Heidegger, que rejeitam a visão de Hegel e Marx sobre o retorno à origem como uma plenitude redentora do ser, e a vêem em vez disso como uma confrontação com o nada da nossa existência.
Arqueologia do saber
Em 1969, Foucault publicou A Arqueologia do Saber, um tratado metodológico que formula explicitamente o método arqueológico que ele usou não apenas em As Palavras e as Coisas, mas também (pelo menos implicitamente) em História da Loucura e O Nascimento da Clínica.
A ideia central do procedimento arqueológico é que os sistemas de pensamento e conhecimento (epistémes ou formações discursivas, na terminologia de Foucault) são regidos por regras, além das da gramática e da lógica, que operam abaixo da consciência dos indivíduos e definem um sistema de possibilidades conceituais que determina os limites do pensamento em um determinado domínio e período.
Por exemplo, História da Loucura deve ser lida como uma escavação intelectual das formações discursivas radicalmente diferentes que governavam o discurso e o pensamento sobre a loucura dos séculos XVII ao XIX.
A arqueologia era um procedimento essencial para Foucault porque sustentava uma historiografia que não se baseava na primazia da consciência dos indivíduos; permitia ao historiador do pensamento operar em um nível inconsciente que deslocava a primazia do sujeito encontrada tanto na fenomenologia quanto na historiografia tradicional.
No entanto, a força crítica da arqueologia estava restrita à comparação das formações discursivas de diferentes períodos.
Tais comparações poderiam sugerir a contingência de um determinado modo de pensar ao mostrar que as pessoas de épocas anteriores pensavam de maneira muito diferente (e, aparentemente, igualmente eficaz).
Mas a mera análise arqueológica não podia explicar as causas da transição de um modo de significar a realidade para outro e, portanto, tinha que ignorar talvez o argumento mais contundente para a contingência das posições contemporâneas estabelecidas. A genealogia, o novo método primeiro empregado em Vigiar e Punir, visava remediar essa deficiência.
Vigiar e Punir e História da Sexualidade
Em trabalhos posteriores, como Vigiar e Punir, de 1975, Foucault aplica seu método genealógico para entender o nascimento da prisão como forma punitiva.
É aqui que um tratamento diferenciado para o poder, como um poder disciplinar que trata de nos padronizar e normalizar, é exercido.
A complexidade do poder, sistematizada mais tarde em Vontade de Saber, primeiro volume da série A História da Sexualidade, vai além de sua forma negativa, punitiva, mas atravessa os sujeitos em sua forma positiva, prescritiva, moldando os corpos para melhor lhes servirem.
O poder passa a ser visto como uma força que delimita, que não deixa fazer, mas ao mesmo tempo, como uma força de criação: se o poder fosse somente repressivo, não haveria como explicar porque seus sujeitados não se rebelam.
Saber e poder
Nas obras de Michel Foucault, então, o papel da ligação saber-poder é determinante.
Para ele, não há como falar de poder sem explicar os discursos que o legitimam, assim como não é possível falar de saber sem explicar as relações de poder que são movidas automaticamente pelos discursos.
Saber e poder são nominalmente separados, mas são a mesma coisa na vida cotidiana.
Nada disso foge do sujeito. Este tripé entre Saber-Poder e sujeito está presente ao longo de seu pensamento como uma maneira de intensificar a noção do sujeito de linguagem constituído por discursos e relações de poder, ao invés de ser determinado por uma estrutura específica (como a econômica) longe de sua própria experiência cotidiana.
Com o passar do tempo, as obras de Michel Foucault se tornaram leitura obrigatória para quem deseja entender o pensamento contemporâneo.
De certa forma, não saber o que Foucault tem a dizer sobre o poder e sobre o saber é estar excluído da discussão atual nas ciências humanas.
Obras de Michel Foucault
Abaixo, a lista das principais obras de Michel Foucault e seus cursos no Collège de France:
Obras publicadas
- Doença Mental e Psicologia (1954)
- História da loucura na idade clássica (1961)
- O Nascimento da clínica (1963)
- As palavras e as coisas (1966)
- Arqueologia do saber (1969)
- Isso não é um cachimbo (1973)
- Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão (org.) (1973)
- Vigiar e punir (1975)
- História da sexualidade (1976-?):
- I – A vontade de saber (1976)
- II – O uso dos prazeres (1984)
- III – O Cuidado de Si (1984)
- IV – Os prazeres da carne (publicado em francês em 2017)
Cursos no Collège de France
- Aulas Sobre a Vontade de Saber (1970-1971)
- Teorias e instituições penais (1971-1972)
- A sociedade punitiva (1972-1973)
- O poder psiquiátrico (1973-1974)
- Os anormais (1974-1975)
- Em defesa da sociedade (1975-1976)
- Segurança, território e população (1977-1978)
- Nascimento da biopolítica (1978-1979)
- Do governo dos vivos (1979-1980)
- Subjetividade e verdade (1980-1981)
- Maldizer, dizer verdadeiro (1981) – trata-se de curso ministrado em Louvain.
- A hermenêutica do sujeito (1981-1982)
- O Governo de Si e dos Outros (1983)
- O Governo de Si e dos Outros: A Coragem da Verdade (1984)
Debates e conferências
- Natureza Humana. Justiça vs. Poder: o debate entre Chomsky e Foucault (1971)
- A Verdade e as Formas Jurídicas (1996)
Pesquisa mostra que Foucault é preferido por 67,5% dos estudantes
Em 2019, O Colunas Tortas iniciou uma pesquisa a fim de entender o leitor atual de análise do discurso.
Como o público do portal é feito, em sua maioria, por interessados em Michel Foucault e Michel Pêcheux, decidimos utilizar esse canal para colher os dados de 464 participantes que responderam as seguintes questões:
- Você mora em qual estado?
- Fez ensino superior? Se sim, qual curso?
- Qual destes autores você prefere? (Os participantes podiam responder entre Michel Foucault, Michel Pêcheux e Mikhail Bakhtin).
Você pode ver os resultados detalhados aqui!
Artigos sobre Michel Foucault no Colunas Tortas
- Artigos sobre a história da loucura;
- Artigos sobre a arqueologia do saber;
- Artigos sobre a noção de disciplina;
- Artigos sobre o poder pastoral;
- Artigos sobre o biopoder.
Resumo
Nome: | Paul-Michel Foucault. |
Nascimento: | 15/10 de 1926, Poitiers, França. |
Morte: | 25/06 de 1984, Paris, França. |
Nacionalidade: | Francês. |
Campo de atuação: | Filosofia; História; Análise do Discurso. |
Formação: | Universidade Sorbonne e Escola Normal Superior. |
Influência de: | Todo campo de estudos denominado de pós-estruturalismo. |
Referências
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. [Organização e tradução de Roberto Machado]. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 9ª edição, 2012.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8ª ed. — São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Quem Somos Nós: Michel Foucault. Canal do YouTube “Quem somos nós?”, 2017. Disponível em <<https://www.youtube.com/watch?v=5XcxVHo4ozc>>. Acesso em 29 jul 2019.
GUTTING, Gary and OKSALA, Johanna, “Michel Foucault”. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2019 Edition). Edward N. Zalta: 2019. Disponível em << https://plato.stanford.edu/archives/spr2019/entries/foucault/>>. Acesso em 29 jul 2019.
KELLY, Mark. Michel Foucault (1926–1984). Internet Encyclopedia of Philosofers, 2010. Disponível em <<https://www.iep.utm.edu/foucault/>>. Acesso em 29 jul 2019.
MADARASZ, Norman R. Foucault: Arqueólogo Estrutural. In: MADARASZ, N., JAQUET, G. M., FAVERO, D., CENTENARO, N. Foucault: Leituras acontecimentais. Porto Alegre: Editora Fi, 2016.
MARKULLA, Pirkko. Foucault, Sport and Exercise: Power, Knowledge and Transforming the Self. Routledge: 2006.
RAGO, Margareth. Michel Foucault: a filosofia como modo de vida. Palestra pelo Instituto CPFL, 2018. Disponível em <<https://www.youtube.com/watch?v=PDxkX6UPKKE>>. Acesso em 29 jul 2019.
Parece que a recusa da cúpula da igreja para a cátedra Focault, trouxe um certo frenesi. Parafraseando, até porque vi a carta de Marilena Chauí, o fato me parece “Palavras e coisas”. Portanto vamos avante.
Trouxe também mais interesse ao autor. Vamos ver o que vai rolar.
Estou gostando, está ficando bem interessante. Vai ficar mais fácil fazer estudos de aprofundamento e de comparação. Obrigada!
Comecei a ler esse material hoje.Estou amando. Sou bióloga mas as ciências humanas são apaixonantes!Já apresentei um trabalho em uma pós de metodologia do ensino superior sobre os meandros do poder e sempre quis me aprofundar.Amei ter acesso a esse material.
Tenho 58 anos. Técnico em Eletrotécnica. Aposentado. Academico de Letras nas licenciaturas de Português e inglês / Acadêmico de Pedagogia / Apaixonado por Filosofia. Udesc SC
Maravilha! Obrigado por ter vindo!
Amei estes materiais sobre Foucault. Gostaria de entender profundamente este autor pelo que ele representa nos nossos tempos. Um pós moderno pós estruturalista. . . etc. Vou indicar este site.
Obrigado!
Estou maravilhada com o material,ficou mais fácil para estudos. Obrigada
Obrigado pela visita!
Adorei este post, quero receber todas as obras dele.
Muito Obrigado!
Obrigado por ter vindo pra cá!
Olá! Muito bacana disponibilizar este acervo!
Só observei que “Vigiar e Punir” está incompleto.
Se puderem completa-lo ficaria grata ^_^
Sou fascinada por esse autor, agora terei oportunidade de saber mais sobre suas obras!
Leia as resenhas!
Que maravilha! Agora vou mergulhar.
Manda bala!
Gosto muito de ler e escrever, logo vou ler esses livros. Pena que minha internet não dá pra baixar todos.
Mais uma vez o site surpreende! Parabéns ao Blog e a todos os seus integrantes!
Trabalho excelente….sobre um dos maiores filósofos de nosso tempo…trás interesse e vontade de quero mais…
Obrigado e sempre volte!
Claro… até republico e indico seus posts no meu modesto blog!
Michel foucault do real ao racional, um leva e traz da cultura!!
Muito interessante. Sempre fico admirada quando pesquiso e começo a ler sobre esses assuntos
Parabéns pela divulgação, a educação é a maior arma para enfrentar as injustiças e desigualdades, especialmente em momentos tão complexos quanto ao atual. vamos à leitura, avante à vida!
Obrigado, sempre nos leia!
Muito bom. Parabéns pela iniciativa de reunir esse material. Muito gratificante ver tal solidariedade nesse feroz mundo acadêmico. Abs.
Obrigado pelo comentário, grande abraço!
Contribuição valiosa!
Agradeço e parabenizo a compilação e a postura generosa da Revista!
Obrigado pelo comentário, Dayse!
Fantástico o conhecimento que tanta diferença faz em nossas vidas.
Com certeza! Obrigado pelo comentário!
Gracias Vinicius.La verdad es que siempre intenté leer las obras M.Foucault peero, no soporto y llego hasta la 5ta.página. Este blog es buenísimo, ayuda mucho a entenderlo. Y cuando debo enseñar a mis alumnos en la Universidad sobre las Instituciones Totales, del poder y el dominio que se ejerce en las cárceles, los manicomios que están en vías de extinción, gracias a Dios, me vuelco a la lectura de I.GOFFMAN. Ahora, de nuevo, gracias Sr.Vinicius.
Nuevamente, gracias por responderme.
Obrigado pelo comentário, Alberto!
Ótimo conteúdo , continue assim !
Assim que puder vou adquirir um dos livros 🙂
Obrigado pelo comentário, Adriano!
Estou iniciando minha vida academica em servico social ! maravilhada com tantas informacoes … a leitura e inspiradora , o conhecimento e libertador1 amando o conteudo ! parabens !!!