A guerra em Foucault, por Judith Revel – DROPS #43

 

REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. Tradução: Maria do Rosário Gregolin, Nilton Milanez, Carlos Piovesani. São Carlos: Claraluz, 2005, p. 56-57.

*Foucault se interessa pela guerra durante um período relativamente breve, entre 1975 e 1977, e de maneira extremamente intensa, pois ele lhe consagra um ano de curso no Collège de France. A primeira referência à guerra limita-se a inverter a fórmula clausewitziana a fim de descrever a situação da crise international criada pelos choques petrolíferos: “a política é a continuação da guerra por outros meios”.


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Guerra em Foucault

Dessa forma, Foucault retoma teoricamente o tema da guerra na medida em que, sendo o poder essencialmente uma relação de forças, os esquemas de análise do poder “não devem ser emprestados da psicologia ou da sociologia, mas da estratégia. E da arte da guerra”. Essa afirmação, reformulada de maneira interrogativa, torna-se o coração do curso “Em defesa da sociedade”: se a noção de “estratégia” é essencial para fazer a análise dos dispositivos de saber e de poder, e se ela permite, em particular, analisar as relações de poder por meio das técnicas de dominação, pode-se, então, dizer que a dominação não é outra coisa senão uma forma continuada da guerra?

**A questão de saber se a guerra pode valer como grade de análise das relações de poder se subdivide em vários problemas: a guerra é um estado primeiro do qual derivam todos os fenômenos de dominação e de hierarquização social? Os processos de antagonismo e de lutas, sejam eles individuais ou de classe, são reconduzíveis ao modelo geral da guerra? As instituições e os procedimentos militares são o coração das instituições políticas? E, sobretudo, quem primeiro pensou que a guerra era a continuação da política por outros meios, e desde quando? O curso, que se alongou sobre a ruptura entre o direito de paz e de guerra característico do poder medieval e a concepção politica da guerra a partir do século XVII, procura, essencialmente, responder à última questão; posteriormente, o modelo da guerra é abandonado em proveito de um modelo mais complexo de análise das relações de poder: a “governamentalidade”.

***Foucault localiza no século XVII um discurso histórico-politico – “muito diferente do discurso filosófico-jurídico ordenado pelo problema da soberania?” – que transforma a guerra num fundo permanente de todas as instituições de poder. Na França, esse discurso, que foi desenvolvido em particular por Boulainvilliers, afirma que a guerra presidiu o nascimento dos Estados: não a guerra imaginária e ideal imaginada pelos filósofos do estado da natureza – “para Hobbes, é a não-guerra que funda um Estado e lhe dá sua forma” – mas uma guerra real, uma “batalha” da qual, no mesmo ano, Vigiar e Punir nos incita a ouvir o “estrondo surdo”.

 – Judith Revel.

Todas as citações contidas no livro Em Defesa da Sociedade.


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