A proliferação das universidades no Brasil e Nietzsche

A educação também é um dos temas de Nietzsche. Para o autor, os educadores são máquinas de fabricar empregados. São os agente da mediocrização da humanidade.

 Da série “Friedrich Nietzsche“.

“Esqueceu-se do fato de que a meta é a própria educação, a própria formação, e não “o império”: o fato de que se precisava de educadores para alcançar essa meta – e não professores ginasiais e eruditos universitários… Educadores são necessários, educadores que sejam eles mesmos educados, espíritos superiores e nobres, que mostrem seu valor a cada instante, através da palavra e do silêncio, culturas que se tornaram maduras e doces. – Não estes brutescos eruditos que os ginásios e as universidades oferecem hoje em dia à juventude como “amém superior”. Faltam educadores, descontadas as exceções das exceções, a primeira condição prévia da educação: daí a decadência da cultura alemã. – Uma dessas exceções das mais raras de todas é meu amigo Jakob Burckhardt de Basiléia, um homem digno de veneração: é a ele que Basiléia deve, em primeiro lugar, sua proeminência no que concerne às humanidades. – O que as “escolas superiores” alemãs conseguem de fato alcançar é um adestramento brutal para, com o dispêndio de tempo mais restrito possível, tornar um sem número de homens jovens utilizáveis para o serviço público; o que significa dizer, passíveis de serem explorados por ele.” [1]

Há maior sabedoria? O restante do aforisma é um elogio aos fortes, um elogio à aristocracia, um elitismo, praticamente. Mas esse pedaço é importante. O elogio de Nietzsche aos fortes, aos nobres, àqueles que devem entrar no ensino superior por serem superiores tem sua validade, tem sua relevância: para o autor, a democracia poda os bons, ela igual o inigualável (entretanto é assunto para outra hora).

O que realmente interessa é a visão de Nietzsche sobre a educação, que deve ter uma meta em si mesma, não deve se submeter ao “império” (hoje esse “império” pode ser substituído pelo mercado). A denúncia é que professores passaram a ser substituídos cada vez mais por educadores: por empregados da mediocridade, por limitadores da potência, por pedreiros da alma.

A alma, que deveria ser livre, que deveria crescer por si (e, portanto, que deveria de fato ser educada), é guiada por um conjunto de profissionais preparados para adestrar os corpos e tornar os jovens, bons empregados do mercado.

Não seria o caso dos novos “facilitadores”? O professor da pós-modernidade é visto como aquele que não ensina, mas possibilita o conhecimento, entretanto, qual conhecimento os facilitadores possibilitam? Normalmente, são os conhecimento úteis para o mercado.

As almas livres, para o autor, são as merecedoras, fazem parte da exceção e, por conta disso, a possibilidade do ensino superior como tal, como um ensino livre em si, não pode ser democratizada. Quando isso acontece, é por questões técnicas. A técnica domina a educação livre quando o corpo domina a alma, quando os procedimentos mecânicos dominam o caos espiritual: quando a ciência predomina, mas “a ciência pertence à democracia” e, portanto, nunca será nobre.

Essa visão elitista pode ser entendida a partir de seu negativo: se o ensino superior voltado ao mercado não pode ser democratizado, democratize-se o ensino superior voltado à educação. Este seria capaz de formar indivíduos qualitativamente diferentes, expostos à possibilidade de um desenvolvimento moral próprio, de uma expansão própria da potência de vida.

Referências

[1] NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Escala, 2008. p. 52.

Publicado originalmente em 2014. Atualizado em 2024.

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