Tanto o sistema colonial com o escravagista se unem de maneira envergonhada mas real com a democracia. Fazem parte de seu inventário amargo, de difícil digestão. A democracia ocidental nunca foi imune ao sistema de desigualdade evidente nas práticas coloniais e escravagistas.
Categoria: Achille Mbembe
Quem é Achille Mbembe?
Mbembe (n. 1957) é filósofo, cientista político e intelectual público. Obteve seu doutorado na Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) em 1989 e posteriormente obteve o DEA em Ciência Política no Institut d’études politiques, Paris. Durante seu tempo na França, Jean-Marc Ela, Jean Leca e Jean-François Bayart tiveram uma profunda influência sobre seus estudos.
Mbembe é Professor Pesquisador de História e Política no Wits Institute for Social and Economic Research em Joanesburgo, África do Sul e Professor Visitante no Departamento de Estudos Românticos do Franklin Humanities Institute, Duke University. Ele também ocupou cargos na Universidade de Columbia, Berkeley, Universidade de Yale e na Universidade da Califórnia. Na primavera de 2016, ele será professor visitante na Universidade de Harvard.
Os interesses de investigação de Achille Mbembe situam-se nas ciências sociais e na história e política africanas. Mais precisamente, Mbembe investiga a “pós-colônia” que vem após a descolonização. Ele está especialmente interessado no surgimento da “cultura afro-cosmopolita”, juntamente com as práticas artísticas que estão associadas a ela. No entanto, ele também explorou criticamente a noção de Joanesburgo como uma cidade metropolitana e o trabalho de Frantz Fanon.
Fonte: perfil do professor na European Graduate School.
O pensamento do autor tem influências nos estudos pós-estruturalistas, estudos anticoloniais, decoloniais e seu conceito-chave, a necropolítica, é fruto de um cruzamento entre Michel Foucault, Giorgio Agamben, Georges Bataille e Frantz Fanon, além de ser uma crítica ao pensamento político ocidental.
Quer compreender o pensamento de Achille Mbembe? Abaixo, todos os artigos no Colunas Tortas a respeito do trabalho de Achille Mbembe.
Três características de nossa época – Achille Mbembe
No caminho oposto a uma visão dos efeitos da globalização nas metrópoles e nos locais dominados, Achille Mbembe caracteriza nossa época a partir de um olhar à migração, ao movimento dos corpos entre os territórios nacionais, um olhar à política que é feita sobre os corpos dominados, que os fabrica, a partir de um olhar sobre as condições materiais de realização da política moderna que, em alguns momentos, tende à necropolítica.
Nanorracismo, por Achille Mbembe – DROPS #28
MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. São Paulo, SP: N-1 edições, 2020, p. 98-101, 105. Mas o que se deve entender por nanorracismo, senão essa forma narcótica do preconceito de cor que se expressa nos gestos aparentemente inócuos do dia a dia, por causa de uma insignificância, uma afirmação aparentemente inconsciente, uma brincadeira, uma alusão ou…
O desejo de apartheid – Achille Mbembe
Aquele que se situa do outro lado do muro não é só um outro, mas é um outro que se faz como nada. Sua perda não é sentida, não por ser um sujeito menor, mas por praticamente não ser sujeito. Eram corpos que cercavam e, no limite, precisavam ser separados, precisavam ser vigiados e precisavam existir para manter estável a criação do inimigo a ser conquistado.
Martírio e fim – Achille Mbembe
O mundo externo impede a realização de uma vida já entendida como mítica, enquanto o mundo interno permite a acumulação de forças para a produção de uma nova moral. Desta forma, o martírio e o suicídio acontecem como medidas de existência: a existência acontece no momento de morte, de aproximação sagrada de Deus (ou do absoluto).
A fabricação dos mortos – Achille Mbembe
O corpo que pode ser morto, se faz como corpo não digno de sensibilidade, despido de todo direito moderno, despido de todo estatuto ético e imerso na máquina administrativa moderna como elemento descartável, passível de substituição individual ou de obliteração coletiva.
O homem-bomba – Achille Mbembe
O território ocupado e regido pelo necropoder gera dois tipos de lógicas próprias para aquelas que são suas vítimas: a lógica da sobrevivência e a lógica do martírio. Enquanto a primeira é amparada pela noção de morte do outro como possibilidade da sobrevivência do eu, a segunda insere o sacrifício como elemento de libertação e transgressão, tendo no homem-bomba sua ilustração perfeita.
Necropoder e colônia – Achille Mbembe
A partir de Mbembe, entende-se que a colônia tardo-moderna é o laboratório de observação do exercício do necropoder. No território ocupado, tem-se a categorização de tipos de pessoas, sempre num status entre sujeito e objeto, de tal maneira que a própria humanidade deve ser vista em perspectiva. O racismo de Estado, enquanto necessidade para fazer morrer na tecnologia do biopoder, carrega consigo o fortalecimento da raça que se deve fazer viver; o necropoder não funda a morte na contrapartida da vida necessária, o necropoder age pela morte como necessidade civilizacional, como ação por si, classificação e proposta de morte.
Necropolítica e biopoder – Achille Mbembe
O biopoder, através do racismo de Estado, cria ferramentas de anonimato na morte em massa daqueles que podem e devem ter seu direito de viver atravessado pelo fazer morrer do poder. Quando se observa as colônias, percebe-se que a guerra é amparada pelas fantasias geradas colonialmente e seu objetivo não é a paz. A guerra já não funciona nos moldes da leitura política tradicional, como enfrentamento de Estados soberanos, como enfrentamento submetido a regras que indicam a civilidade dos participantes. Assim, o massacre colonial é liberado. Tem-se, então, a necropolítica operada.
Política para morte – Achille Mbembe
Neste início de argumentação, Achille Mbembe busca uma maneira fora da tradição tardo-moderna de leitura política para compreender a possibilidade da criação de máquinas de morte no exercício do poder pelos Estados modernos. Este exercício não poderia ser explicado sob os auspícios da leitura política vigente guiada pela razão e pela comunicação, mas sim por uma análise das possibilidades de construção de mecanismos de poder em que a morte é protagonista (e isso justamente nos Estados que encabeçam as luzes). É necessário uma análise da soberania enquanto elemento de transgressão, não de iluminação.