As quimeras da loucura – Michel Foucault

Entende-se o delírio como momento para a expressão da verdade última da loucura, enquanto linguagem delirante que, num salto irônico, tem base na própria linguagem da razão. Convive com a linguagem da razão, pois é como que o espaço delimitado e excluído por ela: a linguagem delirante trabalha com a lógica irredutível e rigorosa da razão, mas através de um fio condutor ilusório.

O indivíduo e a epistémê em Michel Foucault – DROPS #8

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8ª ed. — São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 85-86. Grifos meus e quebras de parágrafo minhas. Um sistema arbitrário de signos deve permitir a análise das coisas nos seus mais simples elementos; deve decompor até a origem; mas deve também mostrar como…

Antes da loucura, a pobreza – Michel Foucault

O internamento passa a ser a ordem perante a pobreza, já dessacralizada e assistida por instituições seculares. O miserável submisso saberá que o internamento é o melhor para sua vida, será internado de bom grado; o miserável insubmisso, justamente por sua insubmissão, merece o internamento e, mesmo o recusando, deverá ser internado.

A loucura enquanto recusa ética – Michel Foucault

A razão, enquanto escolha, é a negação de todo desatino do mundo, ou seja, é a constante afirmação de si num mundo razoável, é o recorrente questionamento acerca da verdade. Ao mesmo tempo, a loucura, enquanto também escolha, se coloca como culpa e primeiro passo da expressão do indivíduo louco no mundo. Escolhe-se pela loucura.

A morte do homem em Michel Foucault – DROPS #6

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 8ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 535-536. A morte do homem em Michel Foucault É que toda a epistéme moderna – aquela que se formou por volta do fim do século XVIII e serve ainda de solo positivo ao nosso saber, aquela que constituiu o modo…

O louco astrólogo – Michel Foucault

A magia não era mais inscrita no conjunto de técnicas e artes que obtêm sucesso na realidade concreta, no entanto, o século XVII ainda não havia a solidificado como compensação imaginária do fracasso em sua apreensão individual. Se a psiquiatria transformou estes signos mágicos e profanadores em inequívoco sinal de doença, por quase dois séculos ao longo de toda Idade Clássica, ainda transitavam em duas possibilidades: da impiedade e da extravagância, entre o profano e o patológico, justamente na posição de desatino.

Poder: Marx contra Foucault – DROPS #5

Segundo a crítica de Armando Boito Jr., a noção de poder em Michel Foucault representaria algo difuso, descentralizado, desmobilizante e desagregador. Difuso na medida em que nega as localizações estratégicas do poder nas relações de classe, descentralizado na medida em que retira o Estado do centro da análise também retirando o poder de sua centralidade institucional, desmobilizante na medida em que seria fundamento para movimentos que não se centram na conquista do poder de Estado e desagregador na medida em que prejudicaria uma noção coletiva de classe, afunilando as lutas sociais para pautas particularistas.

Louco, o escandaloso – Michel Foucault

O escândalo do zoológico já não representa um sofrimento no espírito e uma tentativa de expiação. O campo do escândalo da loucura na Idade Clássica é aquele que o transforma em peça de teatro. A desrazão atrai justamente por seu afastamento do razoável que é um afastamento do humano. Na Idade Clássica, o louco domesticado não é um humano disciplinado, mas um animal adestrado.

A genealogia do poder em Michel Foucault – DROPS #4

A criminologia tradicional, positivista, biologicista, pôde ser criticada através justamente da aplicação de uma genealogia do poder, da aplicação do procedimento foucaultiano de análise, de forma que foi possível encontrar o crime num jogo de relações de poder maior que as relações imediatas que se desenrolavam no momento do crime.

O zoológico dos loucos – Michel Foucault

O zoológico dos loucos, assim como o jardim zoológico de nossa época, tem nos furiosos o objeto perfeito de docilização, mas também de pesquisa, da prática da escrita disciplinar, além de ser um local de transações econômicas, de garantia de lucro sobre uma mão-de-obra que não cobra pelos seus serviços. O furioso é entendido como o animal, objeto animado, boneco vazio de alma porém preenchido pela confusão e raiva da desrazão.