Programa Provocações de 2013, no seio das revoltas de junho, com Antônio Abujamra e a presença do filósofo Vladimir Safatle.
Antes das discussões sobre o fascismo no cenário político brasileiro, as mobilizações de 2013 eram pauta principal de comentários políticos e perspectivas futuras para o país.
Antônio Aburamja – Porquê e para quê, a filosofia?
Vladimir Safatle – Eu diria que a filosofia é o discurso daqueles que acreditam no que é apenas uma possibilidade, daqueles que de certa maneira amam aquilo o que se apresenta como uma mera possibilidade, porque uma ideia é a maneira como a possibilidade pode se transformar em real.
Antônio Aburamja – O homem é uma experiência que deu certo?
Vladimir Safatle – Não, mas talvez porque nós sejamos muito dependentes de uma certa visão normativa do homem. Uma das grandes questões fundamentais do pensamento filosófico do século XX é como ultrapassar essa figura normativa do homem, como pensar um sujeito que não seja simplesmente uma entificação da ideia de indivíduo, que seja uma entificação da ideia do eu. Que seja um para além do humano, de certa forma.
Antônio Aburamja – Dizem que a vida é uma causa perdida e a felicidade é uma ideia velha. Comente.
Vladimir Safatle – A felicidade é uma das estratégias mais brutais de tentativa de imposição de um modo de vida. Eu diria que a vida bem realizada não necessariamente deve ser pensada como uma vida feliz, porque ela é capaz de absorver todos os momentos de dramaticidade e de infelicidade sem que isso seja necessariamente o sinônimo de uma quebra profunda.
Antônio Aburamja – Por que o mundo hoje está tão medíocre?
Vladimir Safatle – Não… Quem falou isso?
Antônio Aburamja – A voz popular!
Vladimir Safatle – Eu não penso assim não. Muito pelo contrário, acho que faz muito tempo que não vemos tanta mobilização, tanto interesse por novas ideias, tanta crença na força da descrença, na força do desencanto como hoje. Acredito que, pelo contrário, estamos em um bom momento.
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Antônio Aburamja – Você acha que a tecnologia ajudou muito pra isso?
Vladimir Safatle – Não, eu acho que a experiência do desencantamento ajudou muito. Acho que há dez anos nós não tínhamos o direito de nos desencantar.
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Vinicius Siqueira de Lima é mestre e doutorando pelo PPG em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da UNIFESP. Pós-graduado em sociopsicologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e editor do Colunas Tortas.
Atualmente, com interesse em estudos sobre a necropolítica e Achille Mbembe.
Autor dos e-books:
Fascismo: uma introdução ao que queremos evitar;
Análise do Discurso: Conceitos Fundamentais de Michel Pêcheux;
Foucault e a Arqueologia;
Modernidade Líquida e Zygmunt Bauman.