Índice
Introdução
O caso do Pequeno Hans veio a público 1909, no escrito Duas Histórias Clínicas, de Sigmund Freud. A experiência é importante no que diz respeito à clínica com crianças, embora não tenha sido propriamente um atendimento de Freud: ocorreu majoritariamente via conversas com o pai de Hans, interessado em psicanálise.
Houve, então, a interpretação de sua fobia por cavalos, e desenvolveu-se que ela possuía relação com o Complexo de Édipo, assim como revelaram-se progressos na descoberta do desejo do menino.
Primeiras notas
Os primeiros relatórios a respeito de Hans datam de um período em que ele estava para completar três anos de idade. Naquela época, via observações e perguntas, o menino ele demonstrava vivo interesse vivo por aquela parte do seu corpo que ele costumava chamar de seu “pipi”[1].
Aos três anos e meio, foi, por sua mãe, flagrado a tocar no membro. A reação dela foi ameaçar chamar o médico da família para cortá-lo, o que Freud compreendeu como ocasião da aquisição do complexo de castração. Na mesma época, ocorreram outras manifestações de curiosidade que resultaram na distinção de características entre seres animados e inanimados, além da emblemática vez em que disse à mãe “pensei que você era tão grande que tinha um pipi igual ao de um cavalo”[2].
Um grande evento na vida de Hans foi o nascimento de sua irmãzinha Hanna, quando ele tinha exatamente três anos e meio[3]. Logo após o parto, cuja narrativa fora tratada pela família como vinda da cegonha, ele ficou espantado, foi levado ao quarto da mãe aonde ocorrera, apontou a comadre suja de sangue e, surpreso, exclamou “mas não sai sangue do meu pipi”[4]. Posteriormente, revelou ciúmes do bebê, e apontava que ele não possuía dentes. Aproximadamente depois de seis meses, afirmou que “pipi” dele era pequeno e poderia crescer no futuro.
Com a mesma idade, pela primeira vez narrou um sonho, cuja figura feminina é a filha, de treze anos, do senhorio de sua casa em Gmunden, onde não ia há seis meses e possuía amigas que chamava de “filhas”. Seu relato: “Hoje, quando eu estava dormindo, pensei que estava em G. com Mariedl. […] Não foi com Mariedl, mas sim bem a sós com Mariedl”[5].
Assim, seu pai forneceu informações acerca das relações com outras crianças, que exprimem sua escolha objetal. Uma, fora de um episódio em um ringue de patinação: apresentou-o às filhas de um amigo, por quem demonstrou admiração. Outra, fora quando fez quatro anos, recebeu visita de um primo, que passou a abraçar, chegando a declarar seu afeto. Com a mesma idade, mudou de apartamento e de lá avistava uma menina em sua casa, a quem gostava de observar.
Com quatro anos e meio, foi passar as férias de verão em Gmunden, período em que seu pai relatou diversas observações: uma foi a permanência de sua amizade com os filhos do senhorio, com direito à nova expressão de desejos de dormir com Mariedl, o que Freud interpretou como sentido dela ser de sua família, uma vez que ocasionalmente os pais do menino o levaram à cama deles. Tal querer, ademais, repetiu-se em relação a uma garota que conhecera, ficava ruborizado com a presença e falava a terceiros sobre imaginar beijá-la.
Em uma manhã em que sua mãe lhe dava banho, ao passar talco em volta do pênis, ocorreu o seguinte diálogo:
H: Por que é que você não põe seu dedo aí?
M: Porque seria porcaria.
H: Que é isso? Porcaria? Por quê?
M: Porque não é correto.
H: [rindo] Mas é muito divertido.[6]
Aproximadamente na mesma época, Hans teve um sonho cujo conteúdo foi puramente auditivo. Eis seu relato: “Sabe, ontem à noite pensei assim: Alguém disse: ‘Quem quer vir até mim?’ Então alguém disse: ‘Eu quero.’ Então ele teve que obrigar ele a fazer pipi”[7].
O pai traduziu o conteúdo como uma situação em que ele brincava com as amigas e pediu que elas o ajudassem a desabotoar as calças para urinar, ato que Freud supôs como prazeroso. Então, ao lembrar que é ele quem o auxilia quando não estão em casa, rememorou que o filho pede privacidade desde que relatou que as amigas outrora o observaram fazendo suas necessidades, fato que o analista descreveu como repressão ao prazer obtido com a expectação.
Enfim, sua última observação consistiu no filho, um dia em que assistia ao banho da irmã, riu, justificando ser devido à beleza da genitália dela. Fora, assim, a primeira vez que Hans notou a diferença anatômica entre corpos femininos e masculinos.
Caso Clínico
O pai de Hans trouxe a Freud novos relatos, junto a expressões de suas consequentes preocupações.
Eis que, com quatro anos e nove meses, o menino passou a, em casa, expressar o medo de perder a mãe. Um dia, como de hábito, fora passear com sua babá, começou a chorar e pediu para retornar à residência para “mimar” com sua mãe. Então, no dia seguinte, ela levou-o à rua para entender o que o afligiu, presenciando a mesma reação, cuja explicação posteriormente apresentada fora dele estar com medo de que um cavalo o mordesse. À noite, chorou novamente por desejo de ser “mimado” e ter medo de que um cavalo entrasse no quarto. Naquele mesmo dia, ela interrogou se ele colocava a mão em seu “pipi” e ele disse que sim. No dia seguinte, advertiu-o a não o fazer.
Assim, temos aqui o começo da ansiedade de Hans, bem como o início de sua fobia[8]. A sugestão de Freud ao pai de Hans fora de dizer ao menino que a questão do cavalo era “bobagem”, que a verdade consistia em que ele gostava muito da sua mãe (por isso queria ir para a cama com ela) e que iniciasse a oferecer esclarecimentos dentro do tema de conhecimento sexual, como a informação de que corpos de pessoas do sexo feminino não possuem “pipi”.
Organizo as seguintes notícias de Hans por seus respectivos dias:
- 1 de março: o pai explicou ao filho que cavalos não mordiam, e este respondeu “mas os cavalos brancos mordem. Em Gmunden há um cavalo branco que morde. Se você apontar o dedo para ele, ele morde.”, o que o pai indagou se ele não queria dizer genitália em vez de cavalo, por não poder encostar[9].
- 2 de março: o pai disse que Hans não poderia sair por estar doente, e ele respondeu que “Não é isso, é ruim porque eu ainda continuo pondo a mão no meu pipi de noite”[10].
- 3 de março: a família recebeu uma nova empregada, que deixava Hans subir em suas costas e chamá-la de “cavalo”.
- 10 de março: Hans falou a ela que se ela fizesse tal coisa, como castigo teria que tirar a roupa, o que faria seu “pipi” ser visto por terceiros.
- 13 de março: o pai disse ao filho que enquanto ele tocasse no “pipi”, não melhoraria, e Hans respondeu que, apesar de querer, não mais o faz. Então conseguiram ir para a frente de casa. No dia seguinte, foram à rua – por haver pouco tráfego, exclamou que Deus retirara os cavalos. Caminhando, conversaram sobre as diferenças anatômicas entre os sexos.
- 17 de março: Hans acordou assustado. Compreendida pelo pai como fantasia masturbatória, transcrevo sua declaração:Pus o dedo no meu pipi, só um pouquinho, vi a mamãe despida, de camisa, e ela me deixou ver o seu pipi. Mostrei a Grete, a minha Grete, o que a mamãe estava fazendo, e mostrei meu pipi para ela. Então tirei depressa a mão do meu pipi.[11]
- 22 de março: Os parentes conversaram sobre “pipis” de animais, apontando que o de cavalo eram grandes e o dele seria maior quando crescesse.
- Dia 27 para 28 de março: Hans foi para a cama dos pais, alegando estar com medo. No dia seguinte, esclareceu que temia as duas girafas amarrotadas em seu quarto, em que sentou. A solução dada por seu pai fora que uma girafa fosse ele e a amarrotada sua esposa, em referência aos respectivos órgãos genitais em uma cena matrimonial transposta à fantasia.
- Dia 29 de março: o pai expôs suas suspeitas ao filho, que concordou.
- Dia 30 de março: Hans apresenta uma nova fantasia, que transcrevo[12]:
Pensei que estava com você em Schönbrunn, onde as ovelhas estão; e aí começamos a rastejar por baixo das cordas, então fomos contar ao policial, no fundo do jardim, e ele nos agarrou.
Depois, lembrou de detalhes:
Pensei que ia de trem, com você, e que nós quebramos uma janela e o policial nos levou embora com ele.
Pois, o pai havia escrito que tomou a liberdade de levar Hans ao Freud, que só foi convencido após ouvir que o médico tinha uma filha. Foram lá nesta tarde. Em uma breve consulta conversaram sobre as conexões entre os cavalos e os sentimentos de afeição por sua mãe. Então, o menino forneceu detalhes que contribuíam ao seu temor: o preto ao redor da boca dos cavalos e o objeto que usam à frente dos olhos. O analista questionou se esses pormenores se assemelhavam a bigode e óculos, como de seu pai. Disse, então, que havia a possibilidade de ele achar que o pai estava aborrecido por ele gostar de sua mãe.
Novamente aos relatos de seu pai:
- 2 de abril: pela primeira vez, apontou melhora significativa no quadro do filho, que fica na porta para a rua durante uma hora, mesmo que carroças passem por ele. De noite, falou que se chegou até lá, também poderia ir ao parque.
- 5 de abril: o menino externou novo temor: “Tenho medo de ficar ao lado da carroça e ela partir rápido, e de ficar de pé nela e querer passar para o galpão (a rampa de carregamento), e então a carroça me levar quando sair”[13].
- 9 de abril: declarou um novo afeto negativo: “é quando estou zangado, ou quando tenho de fazer ‘lumf’ [evacuar] quando o que quero é brincar”.[14]. O pai lembrou que, quando era mais novo e precisava parar alguma atividade para fazer suas necessidades, batia os pés irritado, recordação que poderia ter vindo à tona com a imagem de um cavalo agitando as patas. No mesmo dia, ao sair à rua, Hans confessou ter medo das carroças de carvão, por serem grandes e pesadas, ao contrário das vazias, que não o levam à ansiedade.Em um dia não especificado, ocorreu outra novidade: Hans enojou-se ao ver calcinhas amarelas e pretas da mãe. Alegou que ao fitá-las, pensou que teria que fazer “lumf”. Expressou, porém, prazer em falar que viu a mãe com elas, fato desmentido por ela. No mesmo dia, fez duas perguntas relacionadas ao ato de evacuar.Posteriormente, conversou com o pai sobre brincar de cavalo com os amigos em Gmunden, fato que disse originar sua “bobagem” com os animais pois eles “ficavam dizendo ‘por causa do cavalo’, ‘por causa do cavalo'”[15].
- 10 de abril: o pai, ao tentar retomar o diálogo, descobriu que ele observava os “pipis” dos equinos e gostaria de ver o da amiga enquanto ela urinava e ser por ela observado fazendo as necessidades. Então, contou que gostava de acompanhar sua mãe no banheiro, e o motivo da aversão por suas roupas de baixo era por elas serem amarelas como urina e pretas como fezes.
- 11 de abril: Hans relatou a seguinte fantasia: “Papai, eu pensei uma coisa: eu estava no banho, e então veio o bombeiro e desaparafusou a banheira. Depois ele pegou uma grande broca e bateu no meu estômago”[16].Seu pai traduziu essa fantasia como se segue: “Eu estava na cama com mamãe. Depois papai veio e me tirou de lá. Com o seu grande pênis ele me empurrou do meu lugar, ao lado de mamãe”[17].Na hora do almoço Hans disse temer cair ao tomar banho e confessou que quando assistia à mãe dar banho na irmã, desejou que ela a largasse.Mais tarde, o pai perguntou se o garoto já havia visto cavalos defecando, e ele disse que sim, e que soa como “lumf” caindo no urinol.
- 14 de abril: Hans falou que Hanna viajou com a família em uma caixa, e que, quando tirada pela mãe, montou em um cavalo. A interpretação fora que o menino oferecera ao pai uma história devido a ele ter narrado que a irmã foi trazida por uma cegonha. Depois, disse que às vezes não gostava dela, e já a imaginou morta.
- 17 de abril: Hans declarou que gostaria de chicotear cavalos, como falou que fez em Gmunden – o que na realidade fora uma cena que viu na rua. Ao ser questionado, disse que gostaria de bater na mãe. No mais, explicou que os ônibus, as carroças de mudanças e as carroças de carvão eram carroças de caixas de cegonha, em alegoria sobre mulheres grávidas.
- 22 de abril: O pai fora informado que Hans brincou a manhã inteira com uma boneca que ele chamava de Grete (nome da amiga de Gmunden). Ele separou suas pernas e apontou à empregada seu “pipi”.Depois, contou sua fantasia de que colocou um ovo em que sairá uma galinha e que gostaria de ter uma bebê menina.
- 30 de abril: As fantasias com ter filhos sucederam-se neste ínterim.Ao ver Hans brincar com filhos imaginários de novo, perguntou quem seria sua genitora. O menino respondeu que é a mãe, enquanto seu pai seria o avô dos seres.
- 1 de maio: Hans disse que queria escrever ao Freud a fantasia em que estava no banheiro com os filhos, frente aos quais fez suas necessidades, e depois ajudou-os com as deles. A justificativa fora que gostaria de ter filhos e por eles tudo faria. Assim, foi fornecido que na mente do menino havia prazer ligado às funções excretórias.
- 2 de maio: Hans disse ao pai: “O bombeiro veio; e primeiro ele retirou o meu traseiro com um par de pinças, e depois me deu outro, e depois fez o mesmo com o meu pipi. Ele disse: ‘Deixe-me ver o seu traseiro!’ Tive que dar uma volta, e ele o levou; depois disse: ‘Deixe-me ver o seu pipi!'”[18].O pai perguntou se os membros do bombeiro eram maiores como o dele, e se, logo, o menino gostaria de ser como ele. Recebeu resposta afirmativa. À luz desse fato, pode rever a fantasia anterior, alegando que o garoto não gostava do fato de ter o traseiro pequeno para uma banheira grande.
Uma semana depois, chegou a Freud um pós-escrito do pai, em que relatou que Hans referia-se a sua doença como fato antigo, embora houvesse permanência de resíduos. Outra persistência era a de fazer perguntas a respeito da origem dos objetos. O analista então adicionou que, com a última fantasia, supôs que a ansiedade provocada pelo complexo de castração fora superada, e o restante dava-se que passos a frente do conhecimento deixam resíduos não resolvidos.
Discussão do caso
Freud inicia a discussão do caso realizando apontamentos. O primeiro foi que o caso apóia suas afirmações em Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de forma que o quadro da vida sexual de Hans estava de acordo com o previsto. Outro é que a inserida predisposição do garoto à neurose limitaria generalizações. Por fim, ressaltou que o trabalho fora conduzido pelo pai da criança, facilitando a ocorrência de sugestões.
Então, o autor parte para as recapitulações. Como primeiro traço da vida sexual de Hans, indica seu interesse por seu “pipi”, a partir do qual diferenciou objetos animados de inanimados. Além de realizar auto-erotismo, gostava de observar e ser observado. Ao reparar que animais de grande porte possuíam genitais proporcionais aos seus tamanhos, suspeitou que o mesmo aconteceu com seus pais e aconteceria com ele ao crescer. Com esses fatos, também encontra-se a repressão, uma vez que ele adquiriu vergonha de urinar diante pessoas, era repreendido por masturbar-se e demonstrou sinais de nojo por excrementos – estes desfeitos com a fantasia de tomar conta de filhos.
Em seguida, Freud discorre sobre a escolha objetal do menino. Sua afeição passava da mãe a outros objetos (com objetivo originado da própria relação com ela) porém, em escassez desses, retornava a ela. Tal como descreve no Complexo de Édipo, o garoto queria ter o pai fora do caminho. Durante as férias, formou o desejo de que o pai fosse embora: “num estádio posterior tornou-se possível para seu medo de ser mordido por um cavalo branco ligar-se diretamente a essa forma do desejo, devido a uma impressão casual que ele recebeu no momento da partida de outra pessoa”[19]. Subsequentemente, o desejo tomou forma de que seu pai morresse.
Enfim, foi apresentado que o nascimento da irmã fora marcante em seu desenvolvimento psicossexual. O fato, além de acentuar as relações com os pais, reavivou traços memorativos de suas remotas memórias prazerosas.
Assim, vê-se a soma dos seus desejos eróticos em sua fantasia final.
No que diz respeito à fobia, foi apontado que sua eclosão não fora repentina, tampouco desprovida de ganhos secundários. Descobriu-se que as palavras de advertência que entreouvira de um pai à sua filha sobre tocar em cavalos eram as mesmas com a qual sua repreensão contra masturbação fora estruturada.
Ademais, depois que o analista expressou a suspeita de que haver desejo reprimido de Hans ver o “pipi” de sua mãe, o pai esclareceu que as mulheres não o possuem, o que aumentou seu interesse pela preservação do seu próprio genital. Quando parcialmente dominou seu complexo de castração, comunicou distorcidamente seus desejos por meio da fantasia das duas girafas, imediatamente seguidas pelas de forçar passagem para um espaço proibido em Schönbrunn e quebrar uma janela de uma carruagem de estrada de ferro no Stadtbahn.
Detalhes dos quais Hans mostrou ter medo nos cavalos pareciam transpostos diretamente de seu pai. O esclarecimento liquidou a resistência, então, soube-se de mais objetos que temia: o temor de cavalos caindo incorporou o que poderia facilitar o tombo destes.
Inesperadamente, Hans passou a se ocupar com o complexo do “lumf”. Seu pai reconheceu a analogia “entre uma carroça carregada e um corpo com fezes, entre a maneira como as fezes deixam o corpo”[20]. Novamente sem avisos, criou a fantasia dos bombeiros, posteriormente interpretada como uma distorcida cena de procriação.
Então, o tema “lumf” deu lugar ao da irmã. Hans demonstrou medo de que lhe dessem banho na banheira grande. Isso foi conectado com a cena de Hanna sendo banhada, em que confessou desejar que a criança caísse e morresse, de forma que a ansiedade era o temor de retribuição pelo seu querer. Assim, Freud reconheceu que as carroças de mudanças se relacionavam com caixas de cegonhas, história que Hans rejeitou, pois, vendo sua mãe grávida e depois magra, deduziu que em sua barriga, como um “lumf”, estava o bebê. A ambivalência em relação ao pai fora agravada por ele ter mentido. Portanto, o cavalo caído não era apenas seu pai, mas também sua mãe no parto.
Assim, vê-se que “o material patogênico foi remodelado e transposto para o complexo do cavalo, enquanto os afetos acompanhantes foram uniformemente transformados em ansiedade”[21].
Além do mais, Freud descreve outro componente da patologia: os sentimentos hostis em relação ao pai e os impulsos sádicos em relação à mãe. Tais propensões não encontraram vazão, e com força redobrada saíram como sintomas.
Considerações finais
Os resultados observados foram a recuperação de Hans, que deixou de temer os cavalos e, como seu pai descreveu, reatado uma relação de maior confiança com ele. “Pois a análise não desfaz os efeitos da repressão. Os instintos que foram suprimidos anteriormente permanecem suprimidos, mas o mesmo efeito é produzido de uma maneira diferente. A análise substitui o processo de repressão, que é um processo automático e excessivo, por um controle moderado e resoluto da parte das mais altas instâncias da mente. Numa palavra, a análise substitui a repressão pela condenação”[22].
Por fim, Freud alegou que, se tivesse maior controle do caso, ofereceria a Hans esclarecimentos sobre o tema da sexualidade, certo de que o saber acalmaria suas dúvidas e não interferiria em sua infância e relacionamento com a mãe.
Em uma primavera de 1922, um rapaz de 19 anos se apresentou a Freud, informando-o ser O Pequeno Hans. Também disse que estava perfeitamente bem e que cresceu sem grandes sofrimentos. Ademais, relatou não se reconhecer quando leu o caso, tendo apenas uma trêmula lembrança quando chegou em Gmunden. A inferência fora que análise “não tinha preservado os acontecimentos da amnésia, mas tinha sido superada pela própria amnésia”[23].
Referências
[1] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia em um menino de cinco anos IN: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. X. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.5.
[2] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 7.
[3] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 7.
[4] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 7.
[5] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 8.
[6] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p.12.
[7] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p.12.
[8] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p.15.
[9] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 18.
[10] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 18.
[11] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 19.
[12] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 24.
[13] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 28.
[14] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 33.
[15] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 36.
[16] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 40.
[17] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 40.
[18] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 63.
[19] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 70.
[20] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 79.
[21] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 85.
[22] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 89.
[23] FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia… p. 91.
Psicóloga (CRP 06/178290), graduada pela PUC-SP. Mestranda em Psicologia Social na mesma instituição. Pós-graduanda no Instituto Dasein.
Instagram: @akkari.psi